o JornalDentistry em 2016-1-20
Após anos consecutivos a pugnar pela integração da medicina dentária no Serviço Nacional de Saúde (SNS), foi absolutamente fundamental que em julho último, na altura em que se discutiam os diversos programas dos partidos que concorreram às últimas eleições legislativas, a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) tivesse feito publicar a Carta Aberta designada por “Sem saúde oral, não há saúde geral”.
Nesse documento, instava-se os diversos partidos e responsáveis políticos a apresentarem soluções conducentes a corrigir a situação atual, de exclusão de uma grande parte da população a cuidados de medicina dentária.
O nosso SNS, que muito prezamos, quando foi criado em 1979 deixou de fora a saúde oral. Infelizmente, o Estado Português não criou até hoje condições para que este problema tivesse uma resposta verdadeiramente integrada.
Em paralelo, dispomos de uma medicina dentária que atingiu um nível científico e profissional que a coloca a par das mais evoluídas do mundo. Fruto do empreendedorismo dos médicos dentistas foi sendo criada uma rede de consultórios dentários privados, mais de 5000, que cobrem integralmente o território nacional.
É de há muito referenciada pela Organização Mundial da Saúde a relação entre a saúde oral e a saúde em geral. Particularmente entre a cárie dentária, a doença periodontal (do osso e gengivas) e as principais doenças crónicas: como diabetes, doenças cerebrovasculares, doenças respiratórias e cancro.
A visão, profundamente errada, que separa a saúde oral da saúde no seu todo, tem implicações a diversos níveis acarretando enormes custos para os indivíduos, mas também para a sociedade.
Duas das várias propostas concretas que a OMD apresentou publicamente na Carta Aberta, no que respeita ao desafio da acessibilidade da população à medicina dentária, mereceram já depois disso, a atenção do anterior, e do atual Governo:
–– Alargamento do atual cheque-dentista à totalidade dos jovens até aos 18 anos;
–– E, em complemento, a inserção da medicina dentária nos cuidados de saúde primários no âmbito do SNS, através da inserção de médicos dentistas nos centros de saúde.
Com efeito, o último Ministro da Saúde, Doutor Leal da Costa, anunciou no Congresso da OMD o alargamento do cheque-dentista:
a) Aos jovens de 18 anos que tenham sido beneficiários do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral (PNPSO) e concluído o plano de tratamentos aos 16 anos;
b) Aos utentes infetados com o vírus do VIH/SIDA que já tenham sido abrangidos pelo PNPSO e que não fazem tratamentos há mais de 24 meses;
c) E ainda, às crianças e jovens de 7, 10 e 13 anos com necessidades
especiais de saúde, nomeadamente portadores de doença mental, paralisia cerebral, trissomia 21, entre outras, que não tenham ainda sido abrangidos pelo PNPSO.
E no atual Governo, saudamos muito em especial a iniciativa do Ministro da Saúde Doutor Adalberto Campos Fernandes e da sua equipa, substancialmente mais abrangente e ambiciosa, anunciada publicamente, de integrar médicos dentistas nas unidades de saúde familiares e nos centros de saúde, criando-se, assim, uma enorme expetativa junto da sociedade e dos médicos dentistas em particular.
A concretizar-se, será um marco fundamental para a medicina dentária portuguesa e para a saúde oral dos portugueses. Particularmente dos mais excluídos, aos quais esta iniciativa prioritariamente se destina.
Por solicitação do Ministério da Saúde, a OMD está já a estudar as várias opções, de forma a preparar os seus contributos para um projeto-piloto a ser apresentado o mais breve possível ao Ministério da Saúde. Ao mesmo tempo, espera-se vir a assinar formalmente, nas próximas semanas, um memorando de acordo entre as duas partes.
Até à sua concretização, este processo de integração de médicos dentistas nos centros de saúde será naturalmente alvo de uma negociação aprofundada, complexa, e de implementação faseada no tempo. Não constituirá a “panaceia” para a resolução dos problemas de acesso de toda a população à saúde oral ou dos problemas de empregabilidade com que se debate a profissão…. mas poderá ser uma ajuda importante para a melhoria dos índices de saúde oral.
O alargamento da presença de médicos dentistas nos centros de saúde é parte de uma longa caminhada que tem vindo a ser encetada a passo lento, mas firme, sem vacilar, pela OMD. Temos contado com o apoio de diversos companheiros de jornada, médicos dentistas, opinião pública, comunicação social, instituições académicas e profissionais e alguns responsáveis políticos, membros de governos nacionais e regionais, deputados, autarcas, de entre outros, sempre sob a liderança da OMD.
Entramos com o pé direito em 2016. Como é nosso timbre, tudo faremos em prol da defesa da saúde oral e dos médicos dentistas portugueses.
Um Bom Ano para todos!
Orlando Monteiro da Silva
Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas
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