2015-6-05

ARTIGOS

Cronica de Fernando Arrobas, M.D

EQUILÍBRIO DE NASH

Recentemente, uma das notícias que mais me perturbou foi a da morte de John Nash, o matemático que sofria de esquizofrenia e foi representado por Russell Crowe no conhecido filme “Uma mente brilhante”. De regresso de viagem após a atribuição de um prémio na Noruega, faleceu com a mulher num acidente com o táxi que o levava do aeroporto para casa.

Em princípio este não seria assunto para escrever uma crónica numa revista sobre medicina dentária. Contudo, entendi que este poderia ser um momento oportuno para relembrar a “teoria dos jogos”, o ramo da matemática aplicada
que John Nash investigava e que encontrou uma aplicação em todos os domínios da vida onde existe algum tipo de competitividade e interação entre tomadores de decisão. Sejam elas pessoais, empresariais, militares ou políticas.

Um dos “jogos” mais conhecidos é aquele que se designa como o dilema do prisioneiro. O exemplo clássico consiste em dois prisioneiros e na decisão de alegarem inocência ou entregarem o outro. A verdade é que, se ambos negarem o crime, os dois podem sair em liberdade. No entanto, se um entregar o outro, o acusado recebe uma pena pesada e o delator uma leve. Se ambos se acusarem um ao outro, os dois arriscam penas pesadas.

Agora imaginemos duas clínicas dentárias na mesma rua ou vila. Inicialmente, apenas existia uma clínica e a sua tabela de custos de tratamentos era elevada e obtinha lucros altos devido à falta de concorrência. Passado um tempo, foi inaugurada uma nova clínica no prédio ao lado e, quando esta lançou a sua tabela de preços, decidiu cobrar valores mais baixos do que a primeira. Isto potenciou que grande parte dos pacientes mudassem de clínica, aumentando os lucros da mais recente e reduzindo os da primeira. É evidente que uma ação deste género não ficou sem reação e a primeira clínica reduziu também os seus preços e aplicou descontos. O resultado foi que ambos acabaram por ter menos lucros. Em seguida, começaram uma “guerra de preços”, em que um baixou o preço e o outro viu-se obrigado a responder da mesma forma.
Atraídos pelo benefício de “vencer” o concorrente, criou-se uma batalha sem fim atrás do preço e o risco de destruição do mercado tornou-se iminente, pois atingiu-se o nível em que o preço se começou a praticar abaixo do custo.

A aplicação que o Equilíbrio de Nash veio trazer para as comunidades que vivem em concorrência foi a prova de que a competitividade estratégica racional não deve ser feita através das “guerras de preços”. De acordo com a teoria do matemático norte-americano, aquilo que a segunda clínica deveria ter decidido era a manutenção dos preços altos da primeira clínica ou chegar a um acordo com esta para entrar num “equilíbrio” conjunto sobre quais os valores a

praticar para que ambos continuassem a obter lucros. Esta é a realidade com que os mercados competitivos e organizados, como a indústria farmacêutica e a aviação comercial, funcionam. Infelizmente, em Portugal, em vários sectores e, no caso da medicina dentária em particular, a motivação para se baixar os preços encontra-se na linha da frente da gestão e é uma prática recorrente. Esquece-se, porém, que, atrás da baixa dos preços, vão-se os lucros, a qualidade, os
empregos, a felicidade e as famílias.
O “equilíbrio de Nash” é um dos conceitos mais importantes jamais desenvolvidos e que deveria ser conhecido por todos os empresários dos mais diversos ramos. Acontece que, se a competitividade não for vivida de forma estratégica e racional, os interesses próprios acabam por prejudicar todos, sem exceção. Essa foi a mensagem que John Nash veio trazer ao mundo.
Falta apenas ser aplicada. Paz à alma de um dos maiores génios do século XX e XXI.

Fernando Arrobas M.C – Crónica
fernando.arrobas@jornaldentistry.pt

Diogo Costa - Ilustração:
dcosta_4@msn.com


Nota da Redação:
John Forbes Nash
 - Matemático,
 Prémio Nobel de Ciências 
Económicas.
(13 de junho de 1928 / 23 de maio de 2015).
John Forbes Nash Jr. trabalhou com teoria dos jogos, geometria diferencial e equações diferenciais parciais, exercendo as funções de Matemático Sénior de Investigação na Universidade de Princeton, USA

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