O JornalDentistry em 2017-1-19
Fairy Floss na Austrália, Cotton Candy nos Estados Unidos da América ou Algodão Doce em português. Trata-se do conhecido doce cor-de-rosa, adorado por pequenos e graúdos, cuja venda faz enormes filas de espera nas feiras e parques de diversões.
Embora com menos açúcar do que um refrigerante ou outros exemplos de guloseimas ou bolos, não se pode dizer, ainda assim, que seja benéfico para a saúde dos dentes. O problema - altamente desarmante - é que foi inventado por um dentista.
O trabalho de um profissional em medicina dentária não deve consistir apenas
nos tratamentos clínicos, mas também contribuir para a prevenção e melhoria
da saúde das populações através da informação e educação sobre as consequências
de hábitos nocivos como sejam o consumo de tabaco, de álcool, de açúcar, entre outros. O açúcar, desde que foi trazido da Índia para o Ocidente por Alexandre o Grande em 325 a.c., constituiu-se como um dos principais ingredientes da comida. É certo que a sua expansão a nível mundial apenas se deu com a Revolução Industrial em meados do século XVIII, mas a verdade é que esta viciante substância representa custos extremamente altos nos orçamentos pessoais e globais de saúde. No caso da cavidade oral, as principais consequências ocorrem ao nível dos dentes, sendo a dieta rica em açúcar um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de cáries e as consequentes dores que chegam à consulta.
Em 1897, quando o empreendedor e dentista James Morrison, em conjunto com John C. Wharton, decidiram criar a máquina elétrica de produção de algodão doce, ainda pouco se deveria saber sobre a reação entre açúcar e bactérias para formar o ácido que desmineraliza as superfícies dos dentes. No entanto, conta a história que o clínico, que chegou a ser presidente da Tennesse State Dental Association, oferecia a sobremesa cor-de-rosa às crianças que se portassem bem nas suas consultas. Inicialmente, designou como “Fairy Floss”, um nome curioso, embora
pouco provável que tenha alguma relação com o “Dental Floss”, que já era comercializado desde 1882. O termo com que a iguaria se popularizou – “Cotton Candy” - só surgiu em 1921, quando, novamente um dentista de nome Josef
Lascaux, aperfeiçoou a máquina original e rebatizou o produto.
Da próxima vez que se sentir necessidade de se ter uma séria conversa na consulta sobre a melhoria da higiene oral e da importância de uma dieta pouco concentrada em açúcar, aqui está um excelente ice breaker.
Por certo que o ambiente será divertido e o paciente apreciará a divisão
de culpas.
Texto: Fernando Arrobas, médico dentista
Ilustração: Diogo Costa
Crónica publicada na edição impressa e digital do “O JornalDentistry” de janeiro 2017
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