O JornalDentistry em 2017-5-02
O mais antigo cânone das proporções humanas foi encontrado numa câmara mortuária nas pirâmides de Mênfis, a capital dos faraós, com a data de cerca de 3000 anos a.C.
Desde então, e até hoje, artistas e cientistas têm-se dedicado em desvendar os mistérios das relações proporcionais do corpo humano. São conhecidos os cânones do império faraónico, da era ptolemaica, dos gregos e romanos, o cânone de Policleto, que determinava que o total do corpo era sete vezes o tamanho da cabeça, e as conhecidas obras do alemão Albrecht Dürer.
Entre todas as formas de estabelecer proporções, uma das mais conhecidas é a proporção áurea, que representa a fórmula matemática que define a harmonia nas proporções de qualquer figura, escultura ou monumento. Já reconhecida e registada no Antigo Egipto e popular na arte romana e arquitetura grega, foi denominada “proporção áurea” em 1509 por Luca Pacioli, tornando-se amplamente aplicada por diversos artistas na época do Renascimento.
No fundo, a proporção áurea simboliza a “propriedade divina” da relação de Fibonacci ou a “proporção divina” de Pitágoras. Esta proporção é de 1,0 para 1,618 que, em números inteiros pode ser expressa como 3 para 5, 5 para 8, 13 para 21 e assim progressivamente tal como na sequência de Fibonacci.
Em medicina dentária são requeridos vários elementos para a unidade e estética ideais, sendo um deles a proporção dentária. A aplicação da proporção áurea na estética dentária foi descrita inicialmente por Lombardi, em
1973, e depois por Levin, em 1978. Este último, através de grelhas para a avaliação da medida da amplitude do sorriso e da porção visível dos dentes (multiplicando metade da largura do sorriso por 0,618 obtém-se o valor do segmento dentário anterior de incisivo central a canino e, este valor, multiplicado por 0,618 estabelece, por sua vez, a largura do corredor bucal) usou a proporção áurea para relatar as sucessivas larguras dos dentes anteriores com o objetivo de auxiliar a seleção e montagem de dentes.
A ideia de Levin foi criativa e culturalmente interessante. No entanto, visto que a proporção áurea não é encontrada na composição dentária da população em geral, esta técnica não é aplicada sistematicamente em trabalhos de reabilitação oral, servindo apenas como guia de diagnóstico.
Na verdade, a natureza fundamental da beleza humana é algo demasiado complexo para se medir ou avaliar apenas de régua, esquadro e compasso. São precisamente os desalinhamentos, as rotações ligeiras e as demais discrepâncias subtis que providenciam o conceito de beleza mais difícil de reproduzir: a naturalidade, a personalidade e a harmonia dentro da assimetria de cada um.
Texto: Fernando Arrobas, Médico Dentista
Ilustração: Diogo Costa | dcosta_4@msn.com