O JornalDentistry em 2019-3-21
Saúde é mais do que ausência de doença, é bem-estar físico, mental e social. E Saúde Oral é mais do que ter uma boa dentição, sendo parte integrante da saúde geral e essencial para o bem-estar do indivíduo, bem como um fator determinante para a qualidade de vida.
Raquel Duarte, Secretária de Estado da Saúde
Ter Saúde Oral significa que não há doença oral, dor ou outras desordens. Permite-nos comunicar, manifestar sentimentos, mastigar, mas também previne doenças de outros órgãos como, por exemplo, infeções respiratórias.
A Saúde é conseguida através de estratégias de investimento na promoção de hábitos saudáveis, na prevenção da doença e na melhoria do acesso a cuidados preventivos e curativos.
A perceção da importância da Saúde Oral no bem-estar das populações e a dimensão dos problemas que a condicionam tem vindo a construir-se gradualmente. Os últimos anos permitiram um progresso importante no panorama da Saúde Oral, particularmente entre as crianças e jovens com idade inferior aos 18 anos. Até 2008, o Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral centrava-se essencialmente em atividades de prevenção e de educação para a saúde, que envolviam os Ministérios da Saúde e da Educação através de ações centradas na Saúde Escolar.
Em 2008, implementou-se uma nova estratégia com cheques-dentista, posteriormente alargada, que permitiu a referenciação de crianças e jovens até aos 18 anos, de grávidas, de idosos beneficiários do complemento solidário e de pessoas portadoras de VIH/SIDA para tratamentos de Saúde Oral.
Em 2011, assiste-se a um reforço da parceria entre os Ministérios da Saúde e da Educação, com o Projeto SOBE - Saúde Oral nas Bibliotecas Escolares, através de um proto- colo entre a Direção-Geral da Saúde, o Plano Nacional de Saúde e a Rede de Bibliotecas Escolares. Com este projeto disponibilizaram-se materiais lúdico-pedagógicos que permitiram dar apoio a atividades de promoção de Saúde Oral. De destacar uma das atividades desenvolvidas, “Escovar nas Escolas”, que incentivou a escovagem dos dentes diariamente em ambiente escolar. Esta atividade reforça a importância da higiene oral entre os mais jovens.
Os resultados do III Estudo Nacional de Prevalência das Doenças Orais, desenvolvido pela Direção-Geral da Saúde, em parceria com a Ordem dos Médicos Dentistas e com a colaboração do Ministério da Educação, do Ministério da Defesa Nacional e das Administrações Regionais de Saúde, em 2014, revelaram uma melhoria nos indicadores de Saúde Oral, no grupo das crianças e jovens.
Tendo em conta o interesse do modelo de intervenção para a melhoria da literacia em saúde e na promoção da saúde em geral, o projeto SOBE passou a designar-se, em 2018, SOBE +, alargando o seu âmbito a outras áreas da saúde.
Estas ações preventivas são particularmente relevantes perante os resultados encontrados em populações adultas. No grupo da faixa etária dos 35-44 anos, 42,5% tinha um ou mais dentes cariados, com necessidade de tratamento, e 13,7% tinha menos de 20 dentes naturais presentes na boca. No grupo dos 65-74 anos, verificou-se que estes indicadores apresentam piores resultados e que 14,4% eram pessoas desdentadas totais.
Estes resultados reforçaram a necessidade de melhorar o acesso a cuidados de Saúde Oral e conduziram a uma nova fase do Programa Nacional de Promoção da Saúde Oral, dan- do origem ao Projeto - Saúde Oral Nos Cuidados de Saúde Primários, permitindo acesso a consultas de medicina dentária aos Utentes do SNS. Este projeto iniciou-se em 2016, tendo tido uma implementação crescente e pretendendo-se que a Saúde Oral seja parte integrante da Saúde em geral.
Nas visitas que fizemos pelos gabinetes de Saúde Oral nos Cuidados de Saúde Primários encontrámos frequentemente pessoas que nunca tinham tido cuidados de medicina dentária. Esta é uma realidade que se pretende reverter através de uma estratégia de proximidade e equidade, assegurando à população portuguesa, de forma progressiva e continua
da, as condições necessárias para a manutenção dos dentes saudáveis ao longo da vida. Foi nesse sentido que o Ministério da Saúde determinou, no final do ano passado, os objetivos de cobertura a 2020, prevendo que, até ao fim de 2019, 60% dos municípios tenham um gabinete de Saúde Oral e que todos os ACES o tenham igualmente, sendo a cobertura dos municípios alargada para os 100% em 2020.
A melhoria da Saúde Oral é mais um contributo para a Saúde geral da população. Para o conseguir são fundamentais as ações de prevenção e educação para a saúde, a par da melhoria do acesso a cuidados preventivos e curativos. O Ministério da Saúde está empenhado em ambas as vertentes: na prevenção e no acesso.