O JornalDentistry em 2017-2-20
Uma das maiores vitórias da “saúde oral” nos últimos anos foi a sua inclusão no rol de doenças não comunicáveis, a par das doenças oncológicas, cardiovasculares, respiratórias, virais e mentais.
Por partilhar os mesmo fatores de risco, tais como a dieta, a falta de higiene, o álcool, o tabaco, comportamentosde risco e o stress, a Organização Mundial de Saúde chegou à conclusão de que estas doenças podiam ser prevenidas em conjunto por todos os profissionais de saúde.
De facto, a lista de possíveis causas para o stress não tem limites. Desde o
trabalho até ao trânsito, passando por relacionamentos pessoais ou finanças,
todos podem ser fatores capazes de desencadear tensão, desgaste no corpo e
uma velocidade de 1000 pensamentos por segundo. Daí até ao desenvolvimento de outras doenças, o processo é célere, pois até a qualidade de um ato simples, como escovar os dentes, pode ficar afetado com o “peso acumulado” nos músculos da mímica facial e da mastigação.
A programação neuro linguística (PNL), uma área transversal e em voga, procurada por cada vez mais profissionais de saúde e das diferentes áreas, ensina um aspeto que julgo fundamental para a empatia nas relações pessoais
ou profissionais que pretendemos estabelecer com os outros: a importância de observar a fisiologia corporal e tentar entender a “luta” interna que cada homem ou mulher se encontra a atravessar num determinado momento da sua vida. Foi na junção destes dois conceitos, stress/”luta” interna e PNL, que dei por mim a pensar n’ O Pensador de Rodin, uma das esculturas mais impressionantes do artista parisiense. Quanta fisiologia se encontra representada naquele pensador de costas curvadas, com os ombros fechados, os masséteres desenvolvidos e a mandíbula na posição de encerramento contra a resistência da sua mão direita? Quão poderosa será aquela força interna (negativaou positiva?) para se fazer representar em tal pose meditativa? Por que não as costas direitas, o peito aberto e o mento levantado, numa posição de confiança?
Foi nessa contemplação, provável sinal do meu crescimento enquanto pessoa e clínico, que finalmente entendi o “velho” ancião e professor da faculdade quando me dizia: “não se deve começar a olhar para o paciente só quando este abre a boca e mostra o dente que dói, mas sim estar atento logo à posição em que se senta na sala de espera...”. E quantos – lembro-me agora - não se encontram diariamente na posição d’ O Pensador... Entender a fisiologia corporal dos pacientes e respeitar a sua “luta” interna a cada momento pode ajudar-nos na forma ideal de os abordar em cada contacto duma relação que se quer empática, duradoura e de confiança. Só assim seremos melhores profissionais e conseguiremos ajudá-los a prevenir as suas doenças
Texto: Fernando Arrobas, médico dentista fernando.arrobas@jornaldentistry.pt
Ilustração: Diogo Costa dcosta_4@msn.com