2016-9-13
O Euro 2016, realizado em França, ficará eternamente marcado na vida de todos os portugueses. A vitória sobre os gauleses com um golo de Éder no prolongamento jamais abandonará a memória coletiva deste pais com um milénio de historia.
Embora não tenha atingido a mesma aura de sucesso, houve ainda uma outra equipa que foi a sensação deste campeonato: a Islândia. Na primeira vez que se qualificou para uma fase final, conseguiu ultrapassar a fase de grupos, eliminar a poderosa Inglaterra e sucumbir apenas perante a equipa da casa nos quartos de final. Por coincidência ou não, fê-lo com a presença de um médico dentista ao comando.
De nome Heimir Hallgrimsson, desenvolveu desde cedo uma paixão pelo futebol, um desporto pouco praticado pelos islandeses. Começou por jogar no clube IBV da sua cidade local Vestmannaeyjar, onde depois veio a treinar as equipas masculina e feminina. Ao mesmo tempo, foi sempre mantendo a sua carreira de médico dentista, uma vez que ser treinador de futebol na Islândia era uma profissão apenas em parttime. Dava consultas das 8h às 15h, dedicando o resto do dia ao futebol. Embora pareça um acaso sem relação, a verdade é que, nas suas palavras de rescaldo da prestação da sua seleção no campeonato da europa, acabou por revelar que os anos de experiência em consultório foram fundamentais para a motivação dos jogadores e o consequente sucesso da equipa: “Tenho sorte de ter formação em medicina dentária. De muitas maneiras, acho que me ajudou a trabalhar com os jogadores. Na profissão de médico dentista, os pacientes, por vezes, estão com medo e é preciso falar com eles de diferentes formas. Pode ser necessário relaxar um, ser engraçado para o próximo, ser sério para o seguinte, mas sobretudo tem que se ser rápido a adaptar. É o mesmo com o jogador de futebol.”
Extremamente orgulhoso da sua educação e profissão, foi também inovador e um exemplo para o público no que diz respeito à prevenção de lesões maxilofaciais durante a prática desportiva. Pela primeira vez, vários atletas utilizaram protetores bucais numa competição desta dimensão.
Penso também que se trata de uma referência para todos os médicos dentistas cuja história de vida merece ser contada. Não só no sentido de que adicionar uma dimensão lúdica ou desportiva às nossas vidas pode ser terapêutico (onde as qualidades humanas que se desenvolvem como clínicos podem ser aplicadas), mas também sobre a importância de se guardar tempo para encontrar um equilíbrio entre
as paixões pessoais e a carreira profissional.
Texto: Fernando Arrobas, médico dentista fernando.arrobas@jornaldentistry.pt
Ilustração: Diogo Costa dcosta_4@msn.com