O JornalDentistry em 2017-4-11
A Organização Mundial de Saúde define a saúde como o bem-estar físico mental e social e não só a ausência de afeções eenfermidades. Esta revisão, em pleno séc. XXI, veio mudar de paradigma, ao incluir a saúde oral como parte integrante da definição de saúde geral, com influência no bem-estar físico e psicossocial.
Manuel Marques Ferreira (DDS, MDS, PhD)
Porém, embora o número de médicos dentistas esteja a crescer de forma exponencial e desregrada, acima das necessidades do país, é preocupante que em Portugal cerca de 40% da população portuguesa não tenha acesso aos cuidados de saúde oral…
De forma a facilitar o acesso da população aos cuidados de saúde oral, todas as propostas e ideias que visem a melhoria são geniais, quando adequadamente implementadas. Não podemos no entanto resistir a tentações; não podem ser os médicos dentistas, com os investimentos, os custos e o nível de exigências elevadas que lhes são imputadas, que têm o dever de substituir o Estado.
Os avanços tecnológicos e científicos vivem também de modas e de tendências: hoje, a moderna Medicina Dentária (MD) parece correr um trilho de resoluções eficazes, rápidas e duradouras.
A endodontia é uma das áreas da MD que mais tem evoluído nos últimos anos, para cuidar do espaço pulpar para tratar o terreno apical, com o médico dentista a ir onde o problema radica e intervir diretamente, com arte, com paciência e com proficiência. O desafio é quase avassalador: oferecemo-nos para drenar, esterilizar e reparar terrenos anatómicos microscópicos… com tecnologia macroscópica. Ousamos tentar alcançar cada bactéria, cada reentrância do canal radicular, cada delta apical, cada canal lateral.
Quer dizer, o endodontista atreve-se a “fazer nanotecnologia” à escala macroscópica.
Todo esse trabalho objetiva uma preferência conservadora, que é mais generosa do que a opção por soluções irreversíveis; a decisão de efetuar um tratamento endodôntico é mais “amiga da biologia” do que a sanção cirúrgica e o recurso protético.
Em Endodontia, o profissional assume conhecer a natureza, dominar a biologia, compreender a anatomia, interpretar a semiologia – e tratar como Hipócrates ensinou: a vida que professar será para benefício dos doentes e … nunca para prejuízo deles.
As Sociedades Científicas, e em particular a Sociedade Portuguesa de Endodontologia (SPE), têm procurado ser um veículo dinamizador de conhecimento. O armamentário terapêutico inovador para uma boa prática da MD convida-nos ao exibicionismo técnico, incentiva-nos à diferenciação extrema e impele-nos a ceder à ditadura tecnológica.
As superespecializações são hoje uma realidade. Procurando acompanhar o que se passa em outros países da Europa, a Ordem dos Médicos Dentistas (OMD) criou recentemente a especialidade de Endodontia, que aguarda a sua implementação prática.
Visando esse objetivo, verificamos diariamente a oferta de cursos de credibilidade muitas vezes duvidosa, promovidos por microempresas privadas de ensino, que transmitem de forma leviana a simplicidade da especialidade.
Importa referir que, de acordo com o que se encontra plasmado em Diário da República (Regulamento 220/2013) sobre o tema das especialidades e que vai ao encontro da European Society of Endodontoloy (ESE), o acesso ao título de especialista é possibilitado aos clínicos de MD que frequentaram uma pós-graduação em Endodontia com um determinado número de créditos (ECTS), numa Instituição de Ensino Superior.
É urgente que os agentes da saúde oral do país concertem estratégias no sentido de reduzir o numerus clausus e a responsabilidade de aumentar a formação pós-
-graduada, não só na área da endodontia mas também em outras áreas da MD.
Por isto que, em traços largos aqui deixo, bem se vê onde quero levar a mensagem deste espaço: a endodontia vai bem e recomenda-se!
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