O JornalDentistry em 2017-5-31
No dia 12 de maio de 2017, um dos dois dias que o Papa Francisco visitou Portugal por ocasião do centenário das Aparições, celebrou-se o Dia Europeu da Saúde Periodontal
Susana Noronha, Presidente da Sociedade Portuguesa de Periodontologia e Implantes
A Sociedade Portuguesa de Periodontologia e Implantes (SPPI), como membro da Federação Europeia de Periodontologia (EFP), associou-se à promoção e divulgação de uma campanha internacional de consciencialização centrada no tema “Todos juntos vamos combater a doença periodontal”. O conhecimento atual das caraterísticas da doença periodontal, nomeadamente a prevalência crescente, a natureza crónica, as possíveis complicações e a interrelação com outras doenças como a diabetes, reforça a importância da sensibilização, como meio de alerta para a prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado.
Nesse sentido, e a propósito da celebração...
Em primeiro lugar, para o doente, informar e promover a literacia é fundamental e constitui o principal objetivo das ações propostas. Unicamente um doente esclarecido e motivado pode colaborar nas várias fases do tratamento periodontal, aspeto essencial para o sucesso e manutenção dos resultados alcançados. O esclarecimento passa por desmistificar ideias antigas que já há algumas décadas sabemos estarem incorretas, por exemplo “a doença periodontal é genética ou hereditária” ou “a doença periodontal não tem tratamento pelo que a extração dos dentes afetados é inevitável...”. O esclarecimento deve incluir também a informação dos resultados alcançáveis com o tratamento periodontal, comprovados cientificamente, que indicam que a destruição periodontal e a perda dentária podem ser evita- das, ou pelo menos retardadas, de forma significativa. Adicionalmente, devem ser claras as sequelas e as limitações da doença e do seu tratamento. Só assim, em consciência, o doente poderá optar.
Em segundo lugar, para os alunos, futuros médicos dentistas. A periodontologia é uma das áreas da medicina dentária atualmente considerada especialidade pela Ordem dos Médicos Dentistas. Sabendo que a medicina dentária é uma atividade prática por excelência, baseada num elevado conhecimento teórico, e reconhecendo que, para tal, o contributo da ciência é fundamental e deve ser aplicado de forma continuada e rigorosa, o aparecimento de programas de formação pós-graduada, estruturados, a tempo integral, com a duração de três anos, permite aos alunos aprofundar os conhecimentos em periodontologia e garante competências de especialista na identificação, diagnóstico e tratamento das lesões e doenças do periodonto. A aposta na formação pós-graduada representa uma melhoria significativa no processo de aprendizagem da medicina dentária em geral e da periodontologia, em particular, e permite alcançar uma diferenciação na prática clinica, adaptada à realidade, cada dia mais exigente e competitiva.
Em terceiro lugar para o médico dentista. Atualmente, a prática em periodontologia como área da medicina dentária não é compatível com o empirismo. A consciência científica é determinante e a formação contínua imprescindível para associar a clínica ao conhecimento. Reconheço que os tratamentos periodontais são exigentes, não só para o doente como para o clínico e que o resultado nem sempre é apelativo. Este facto, associa- do ao aparecimento dos implantes dentários, conduziu a uma notória tentação de substituir dentes com periodontite por implantes para “facilitar” o resultado final da reabilitação. No entanto, ao contrário do que acontece com o tratamento periodontal, ainda não existe evidência científica sólida que documente o êxito do tratamento da periimplantite, uma complicação biológica da terapia com implantes, com elevada prevalência. Como médica dentista dedicada, em exclusividade, à área da periodontologia e implantes, não posso estar mais de acordo com a afirmação de Roccuzzo: “Todo o implante é uma bom- ba-relógio: ao colocá-lo nunca sabemos como e quando vai explodir. Está na hora dos médicos dentistas regressarem às suas origens: fazer tudo o que seja possível para salvar os dentes e manter os doentes sob controlo adequado, especialmente os doentes periodontais com implantes“.
Assim, espero que o Dia Europeu da Saúde Periodontal tenha sido mais um momento para recordar a importância da contribuição de todos, médicos dentistas, alunos e doentes, para salvar mais dentes e melhorar a Saúde Periodontal.
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