JornalDentistry em 2023-5-24
Sou muitas vezes acusada de querer resultados demasiado rápidos. Gostava de ter nascido ensinada, concluir eficientemente todos projetos, ter retorno urgente dos investimentos e crescer todos os dias enquanto pessoa.
Mónica Pereira Lourenço e Catarina Duarte
Em oposição, sou forçada a admitir que é provável, possível e até recomendável que os -intes, -intas e até -entas possam passar mais pela descoberta e pelos erros do que pelos resultados.
A medicina dentária é uma profissão cada vez mais saturada. Segundo o Estudo aos Jovens Médicos Dentistas 2022, da Ordem dos Médicos Dentistas, 45% dos jovens até aos 35 anos demora mais de um ano a auferir 750€ líquidos. O subemprego é uma realidade e pode ser uma das razões que leva mais de metade dos jovens (54,7%) a afirmar que não voltaria a escolher a profissão ou pretende complementar com outra área, não exercendo medicina dentária apenas.
Talvez algo de bom acabe por surgir de tudo isto. A vida empurra-nos a olhar para lá do óbvio, a explorar novas opções de carreira. Eu própria, há mais de um ano, tenho explorado várias áreas paralelas a esta a que chamo profissão. Tenho participado e até ajudado na organização de projetos de Erasmus +, tenho escrito artigos científicos desempenhando tarefas de Medical Writing, colaborado ativamente em atividades de cariz social e até político/associativo como membro do Conselho da Ordem dos Médicos Dentistas. Além disso, mantenho uma série de hobbies não profissionalizados como a poesia. O objetivo será dispersar não como um caminho que se divide, mas como o vento, que nunca se perde. E, apesar de não ser tarefa fácil, há muita riqueza em abraçar a diversidade.
A convidada deste mês é a Catarina Duarte. A par dos estudos em medicina dentária, esteve envolvida no asso- ciativismo desde sempre e, atualmente, integra o Conselho de Jovens Médicos Dentistas, tendo sido a maior responsável pelo Estudo aos Jovens Médicos Dentistas do qual apresentei alguns números. Colabora no projeto “Comer Bem, Sorrir Melhor”, iniciativa que leva saúde oral e nutrição a crianças do 1o ciclo. A matemática e o sentido prático levaram-na a complementar a formação com a área da gestão.
Espero que fiquem inspirados e quem sabe decidam dar o próximo passo de explorar um talento escondido.
E lembrem-se: não existem sonhos realistas, existem sonhos que encolhemos para caber nos moldes pequenos da sociedade.
Qual a formação extra que escolheste?
No ano letivo imediatamente após a conclusão do curso de medicina dentária decidi inscrever-me numa pós-graduação em Economia e Gestão da Saúde. A pertinência dos conteúdos abordados fez com que as minhas expectativas fossem de imediato ultrapassadas e por isso, no ano seguinte, avancei para o respetivo mestrado.
Porquê?
A par com a saúde, sempre tive um pequeno fascínio pela economia. Com o início da minha atividade profissional enquanto médica dentista vi neste novo curso a possibilida- de de alcançar o melhor dos dois mundos e de complemen- tar a minha formação. Em retrospetiva, foi algo que sempre desejei.
Ponderas deixar a medicina dentária em termos clínicos e dedicar-te só a esta outra vertente?
O futuro é incerto. No entanto, não coloco de parte a possibilidade de me dedicar por completo à economia da saúde, deixando o consultório médico-dentário para segun- do plano. Pessoalmente, sempre acreditei e defendi que os médicos dentistas deviam exercer mais funções de gestão e de administração em organizações de saúde. Porque não? Somos profissionais de saúde altamente qualificados e podemos ajudar a fazer a diferença.
Por outro lado, a empregabilidade jovem em medicina dentária está hoje associada a uma elevada precariedade, a qual se manifesta na (des)valorização profissional, nos vínculos contratuais, nas condições de trabalho...
O que sentes quando estás a dar consultas? E quando estás a exercer a tua outra profissão de gestão?
A participação no projeto “Comer Bem, Sorrir Melhor” permite-me conjugar as minhas duas áreas de formação, não sendo possível dissociar as duas.
Se por um lado mantenho o contacto clínico com os pacientes (neste caso com as crianças), o que considero altamente gratificante, por outro lado coordenar este projeto permitiu-me desenvolver uma visão muito mais abrangente sobre o mesmo e sobre as iniciativas de promoção da saúde oral. A inclusão desta nova componente na minha atividade profissional faz-me sentir totalmente realizada.