JornalDentistry em 2022-12-14
Oúltimo mês do ano é de balanço e introspeção, mas também de par- tilha e magia. Mais um ano que passa, um ano em que nos foi dada a oportunidade de o passar. Estamos mais velhos, isso é certo, mas, por isso, também mais ricos. Ricos pelas oportunidades ganhas e etapas con- quistadas.
Ricos pela aprendizagem com os erros e com as dificuldades. Ficar mais velho, getting old, traz consigo mais sabedoria, mas também normalmente mais responsabilidade. Há quem faça a análise acróstica da palavra em inglês OLD, da seguinte forma: o “O” significa ownership. Tomar responsabilidade pelos nossos atos, decisões e comportamentos. À medida que envelhecemos percebemos a importância de assumir o que, porque dependendo diretamente de nós, está ou continua menos bem. O “L” significa learning, aprender com os erros. E o “D” significa don ́t repeat it, aprender a lição de forma a não repetir os mesmos erros. Ficar mais velho a cada ano, é ficar mais experiente na vida e na arte de lhe dar propósito.
O propósito desta época de Natal é lembrar-nos de que é preciso acre- ditar. Que quando juntamos essa força, à atenção e amor ao outro, que a magia acontece. Quantas e quantas vezes já não presenciamos aconteci- mentos ou chegamos a soluções que à partida não achávamos possíveis de acontecer. Acreditar é meio caminho andado para lá chegar. E “mesmo sem ver, acreditar” como diz a letra do fado de Mariza. Porque acreditar é ver de olhos fechados, é ver com o coração. E o Natal é a época por excelência em que devemos poder ver com o coração. Ver os outros com o coração é o que permite perceber um mundo onde é preciso subir a infla- ção para controlar o supérfluo de alguns, arriscando o essencial de muitos. E não é o essencial invisível aos olhos? Sorte a nossa, médicos dentistas, que a saúde oral é considerada por todos como essencial...e, no entanto, continuamente comparticipada como supérflua.
O 2023 que se aproxima ao virar da esquina apresenta-se, já à partida, como o ano da resolução definitiva da pandemia que nos marcou defini- tivamente nestes últimos 2 anos, mas, ao mesmo tempo, antecipa-se um outro ano difícil. O ciclo económico está lançado no sentido ascendente e a guerra parece, ainda, longe de acabar. E, se começar um ano novo traz a esperança de iniciar uma nova folha em branco, traz, também, o peso da oportunidade de nos criar novos desafios. Há uns anos achava que uma boa forma de olhar para um novo ano era estabelecendo novos objetivos. Hoje, depois de uns anos mais velha (OLD), tento estabelecer mais desa- fios do que objetivos. O desafio obriga-nos a aprender novas ferramentas, a investir no caminho, a aprender mais. O desafio pressupõe ser algo que não só nunca fizemos, como, à partida, não estamos totalmente prepara- dos para o fazer. Por isso, acarreta uma certa dose de medo e uma certa dose de coragem. O que se mostrar mais forte, o medo ou a coragem, decide o desfecho final. Desafio superado ou não.
Os desafios podem ser em várias áreas, pessoais ou profissionais. Podem surgir comprimidos no tempo e, por isso, exigir esforço, dedica- ção e rapidez como uma corrida de 100 metros, e outros podem ser mais alargados no tempo, exigir mais determinação, perseverança e capaci- dade de sacrifício. Mas para qualquer deles o denominador comum é a coragem de acreditar no processo. Os desafios não têm de ser grandes, visíveis ou públicos. Podem ser apenas o combustível que mantém viva a chama da energia de viver o nosso propósito. De ser dentistas, maridos, filhos, irmãos, mães, colegas, amigos. O propósito, se pensarmos bem, nunca existe sozinho, só para nós. Se assim fosse extinguia-se em si pró- prio, qual chama após consumir todo o oxigénio. O propósito tem sempre repercussão no que nos rodeia, porque se alimenta dele e a ele devolve energia em ondas de comportamento. Eu acredito num 2023 determinan- te, em que o desafio que foi aprender a controlar a pandemia seja ganho. Em que possamos aprender que todas as guerras são um erro, para nunca mais o repetir.
Desejo que este ano que agora termina tenha sido cheio de desafios superados e que o 2023 nos traga muitas oportunidades de ver os outros com os olhos do coração!
Editorial de Célia Coutinho Alves , Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela