O JornalDentistry em 2020-7-21

EDITORIAL

"O balanço de quatro meses de pandemia ainda não nos trouxe muitas certezas"

Não posso deixar passar este editorial sem dar os parabéns ao colega Miguel Pavão, que foi eleito novo bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas e a toda a sua equipa, iniciando, assim, um novo ciclo da vida da OMD.

Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia, diretora do "O JornalDentistry"

A vitória expressiva e a mobilização da classe na participação deste ato eleitoral, veio expressar uma vontade inequívoca de mudança, a meu ver importantíssima como garantia democrática das instituições que servem os seus associados. 
Como bem disse o Prof. João Caramês, presidente da comissão eleitoral da OMD: “A vitória do Miguel Pavão nestas eleições premeia o seu dinamismo, sentido de galvanização e de consciência social entre os colegas.” E eu acrescento, é o resultado de um espírito e força de vontade genuínos e aglutinadores que só nascem com os grandes líderes. 
Desejo-lhe muito sucesso e sorte para estes próximos quatro anos de mandato em representação máxima da nossa classe. E porque as montanhas só se aplanam quando avançamos sobre elas, sei que o Miguel não ficará parado no supé a olhar para o cume de cada montanha que até agora tem parecido intransponível à classe. Mas avançará sobre elas passo a de passo, até as ultrapassar. E conta, certamente, com todos nós para ajudar em cada subida. 
Faz-me lembrar aquele desafio que um professor universitário de Stanford fez aos seus alunos...ele dividiu-os em vários grupos e deu a cada grupo uma nota de cinco euros. Depois disse-lhes que tinham duas horas para fazer o máximo de dinheiro possível com esses cinco euros e que findas essas duas horas teriam três minutos para expor o seu modelo de negócio e resultados perante uma audiência de professores e potenciais investidores do mercado. Grupos houve que compraram limões com esses cinco euros e foram vender limonadas para a porta da faculdade durante duas horas. Outros, perceberam que os cinco euros eram apenas um motivo de distração e concentraram-se nas duas horas fazendo booking de reservas em vários restaurantes de arredores cobrando uma comissão sobre o serviço. Mas houve um grupo que percebeu que tanto os cinco euros como as duas horas eram motivos de distração e que o verdadeiro valor do negócio estaria nos três minutos em frente a tão importante plateia e venderam esses três minutos a uma start-up à procura de investidores. Estou certa de que o novo Bastonário eleito não se deterá no acessório, nem nos motivos de distração, e que manterá sempre o foco nos três minutos que terá à frente de cada decisor político que enfrentará. 
Os desafios que a classe enfrenta estão bem identificados. Mas esta pandemia que não dá vislumbre de nos deixar aliviar medidas de proteção, coloca-nos num patamar de exigência e incerteza, obrigando-nos a uma superação diária. O dia em que teremos de ficar em casa de quarentena porque somos contacto próximo de alguém infetado é uma ameaça muito mais real do que os números distantes dos relatórios diários da DGS. Quando a escola começar...então aí nem se fala. Quem ficará em casa com os filhos cujas salas de aulas encerraram por presença dum caso positivo, quando os avós não podem ser opção? Serão os pais claro, a assegurar novamente o ensino à distância, agora sem lay-off, sem poder ir fazer compras ao supermercado... 
Temo que durante algum tempo a sociedade, a saúde, a economia, a escola e a clínica terão uma vida on-off. Ora parece que tudo “normalizou” ora voltou tudo a “confinar”, num vai-vém de decisões e contra-decisões para as quais estamos a ser formados a um ritmo imposto pela SARS-CoV-2. O balanço de quatro meses de pandemia ainda não nos trouxe muitas certezas. Apenas a de que vamos ter de conviver com este vírus e trocar-lhe as voltas para que ele não nos apanhe na curva. E se apanhar, que estejamos de máscara. Dentro de portas e fora delas. Sempre. 
 

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