JornalDentistry em 2024-3-13
Nunca posso deixar passar um editorial de março sem fazer referên- cia ao Dia da Mulher. Cada ano que passa estou mais convencida de que elas (nós) são seres mais completos.
Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia
Yann Lecun, o cientista chefe responsável da Meta e um dos investi- gadores e influenciadores mais reconhecidos no campo da inteligência artificial, é muito claro a apontar a incapacidade que os vários sistemas inteligentes ainda têm hoje em dia:
1. a incapacidade de ler o mundo físico;
2. a incapacidade de ter uma memória persistente e recorrer a ela;
3. a incapacidade de acertarem sempre, de terem razão;
4. e a incapacidade de planear.
Parece que tudo isto resulta do facto destes sistemas “aprenderem” o mundo somente através da linguagem, do que está escrito e pode ser lido e transmitido nesta forma de conhecimento. Ainda não aprendem pela observação como fazem os animais e os seres humanos. Um bebé de 1 ano não domina a linguagem, mas já interage com o mundo que o rodeia porque o observa constantemente e, com essa informação, processa respostas e formas de interação que não dependem da linguagem lida, escrita ou falada. Na verdade, uma criança de 4 anos pode, pelo número de horas que já viveu acordada a interagir e a observar o mundo, processar e dominar uma maior quantidade do tokens de informação que qualquer sistema artificialmente inteligente.
O que está provado é que a maior parte do conhecimento que vamos acumulando ao longo da vida chega-nos pela observação e interação com o meio que nos rodeia e não através da linguagem. Por isso, permito-me fazer a associação livre de que a mulher, sendo dona duma capacidade sensorial e uma perceção emocional ativadas desde cedo por um mundo de histórias, casas de bonecas, papéis principais e domínio de 7 ofícios, captam um mundo de tantos ângulos e de tantos vértices que as faz ser mais completas, mais maduras, mais intuitivas.
E então percebo agora donde vem aquela capacidade de analisar, aos primeiros minutos da consulta, o perfil psicológico do paciente que se senta na sua cadeira, donde vem o bom senso, o aprender com os erros, a razão (já o povo diz que a mulher tem sempre razão!) e a extraordinária capacidade de planear. De planear o dia, a mochila e a roupa dos filhos, o almoço e o jantar, a hora das compras de semana, a revisão do caso, da aula, a preparação da reunião, a estratégia de investimento, as férias, os fins de semana, a vida. E mesmo sabendo que não controlamos tudo, sabemos que não precisamos de controlar tudo para ir. E fazer acontecer. Conheço muitos homens nos quais reconheço igual mestria. Mas conheço muitas mais mulheres que, com um trabalho invisível, planeiam de forma exímia para fazer acontecer.
Por isso, no tempo da IA, reconhecer que as qualidades que faltam a estes sistemas inteligentes e que as distingue do ser humano são caracte- rísticas em que as mulheres são fortes, faz-me pensar que a inteligência é muito mais que tokens de informação acumulada. É o que saber fazer com ela. É o que saber fazer com ela em sociedade. É saber o que fazer com as memórias e o que elas fizeram connosco. É priorizar uma informação em relação a outra, para escolher abraçar a filha antes de pousar a carteira ao chegar a casa. Que este editorial sirva para empoderar as mulheres, as médicas dentistas e todas as outras que sabem bem o que são e o que querem. Porque o lugar da mulher é mesmo onde ela quiser. Que quei- ramos então!
Boas leituras!
Célia Coutinho Alves, Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela
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