O JornalDentistry em 2020-12-26

EDITORIAL

A barreira psicológica do ano

Depressa chegamos ao último mês de 2020. Este ano passou tão rápido e tão lento ao mesmo tempo. Tão lento, pois a sensação foi que não vivemos, não fizemos grande parte das coisas que gostamos, fomos privados de muitos momentos de convívio e partilha com os nossos. Mas ao mesmo tempo, este 2020 passou a voar.

Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia, diretora do "O JornalDentistry"

Depressa chegamos ao último mês de 2020. Este ano passou tão rápido e tão lento ao mesmo tempo. Tão lento, pois a sensação foi que não vivemos, não fizemos grande parte das coisas que gostamos, fomos 
privados de muitos momentos de convívio e partilha com os nossos. Mas ao mesmo tempo, este 2020 passou a voar. Foram tantos os desafios e as constantes adaptações a novas formas de estar presente, de trabalhar, de estudar, de reunir, de estar em família que o tempo pareceu não chegar para tudo. A nova forma de estar presente, uma forma online, tornou, muitas vezes sobreponíveis, jantares de família com reuniões zoom, webinares e cozinhados, conferências à distância dum clique desde o outro lado do mundo, com tarefas de casa ou viagens de carro. 
Também a medicina dentária se adaptou. As consultas ficaram mais lentas e exigentes. Reinventaram-se novas formas de comunicar com os pacientes. A telemedicina ganhou novos contornos. As aulas ficaram mais frias e massificadas. Os cursos passaram a online ou diminuíram a sua componente prática. Mas se todos estávamos à espera de um regresso à normalidade após a primeira vaga da pandemia, já todos percebemos que muitas das mudanças vieram para ficar. Mesmo depois da segunda vaga, mesmo depois da pandemia, mesmo depois da vacina. 
Temos uma barreira psicológica do ano. Ou seja, pensamos que depois de 31 de dezembro, quando passarmos para 2021, tudo voltará a ser normal... Não tenho tanta certeza assim de que a barreira psicológica da transição do ano velho para o ano novo, traga consigo uma viragem de página efetiva neste ano difícil e marcante. No entanto, a esperança da vacina seja uma forma eficaz no controlo deste vírus pandémico, é um forte garante nesta luta. Certamente, grandes progressos serão feitos durante o próximo ano e uma nova forma híbrida de estar presente, nomeadamente em cursos, aulas, reuniões de trabalho, congressos virá para ficar. 
Um dos maiores desafios para 2021 será, na minha antecipação visionária, lidar com o foco. Manter ou recuperar o foco essencial que nos equilibra a mente e nos motiva a continuar. Certamente durante 2020, questionamos muitas coisas, perdemos algumas, fortalecemos outras, mas sobretudo polimos o essencial do acessório. O nosso cérebro é um órgão como o nosso coração, estômago ou qualquer outro. Manter o cérebro saudável é um exercício igual a manter saudável qualquer outro órgão do nosso corpo. Depois de um ano tão exigente do ponto de vista psicológico e emocional é normal ouvirmos dizer com frequência: “Estou cansado/a! Estou farto/a desta pandemia!”. O nosso cérebro tem inúmeras estratégias para se ir mantendo à tona, mesmo durante períodos que o põem sobre um stress extremo. Mas a dada altura, para o manter saudável, temos de mudar a atenção do nosso cérebro, reprogramá-lo para pensamentos positivos, visão de melhores tempos, mais livres, mais saudáveis. Nós mudamos e avançamos impelidos pelo que sentimos. E o que sentimos é muitas vezes o reflexo puro dos pensamentos que produzimos. Assim, reprogramar o cérebro para se focar em pensamentos positivos, motivadores e construtivos é essencial para o manter saudável na saída deste ano de 2020 e na preparação para um 2021 verdadeira- mente renovador. 
Um dos primeiros pontos a focar o cérebro em 2021 que, penso, todos percebemos neste ano que está a terminar, é que não podemos perder energia com pensamentos que não controlamos. Uma vez ensinaram-me que perante uma dificuldade temos de fazer esta pergunta: podemos controlar alguma coisa no sentido de a resolver? Se sim, deixa de ser um problema. Se não, deixa igualmente de ser um problema porque dependemos de outros ou do universo para que se organize no sentido de a ultrapassar. 
O foco da nossa mente deve ser organizar os pensamentos positivos que nos ajudam a controlar as dificuldades que vão surgindo, orientar os pensamentos que nos impelem para a ação, fomentar os pensamentos que entendendo que não podemos controlar tudo em todos, podemos, sempre, controlar os nossos próprios pensamentos sobre isso. 
Controlar os nossos próprios pensamentos, focados no essencial que é ser humano, ao serviço do outro, no nosso caso, na missão nobre do cuidado da saúde oral. 
Desejo a todos os colegas um 2021 cheio de concretizações, focados no essencial do serviço ao outro! 
 

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