JornalDentistry em 2024-9-24
Estamos de regresso! E isso é bom, é muito bom! É a oportunidade para fazer melhor, criar diferente, evoluir. Setembro sabe a regresso. Para mim, e julgo já ter partilhado esta ideia antes, sabe mais a decisões do que janeiro.
Em janeiro apontamos metas ou objetivos, mas é em setembro
que as ações (re)começam. É também uma boa altura para arrumar ideias,
sentar para alinhavar o que ficou deixado para depois de férias ou que
estava prometido para não deixar de ser feito até ao final do ano.
Para os professores, e não falo dos universitários, setembro deve ser o
mês mais instável do ano. O mês em que a vida muda todos os anos e, às
vezes, a casa também. Não me imagino nessa montanha-russa, sobretudo
com filhos em idade escolar ou pouco apoio familiar. E, por isso, não posso
deixar de deixar aqui um apreço especial a todos os professores que este
setembro veem as suas vidas restruturadas em função da sua missão de
ensinar.
Para os médicos dentistas costuma ser também um mês de alguma ins-
tabilidade, precisamente porque tudo está a voltar à rotina devagarinho,
ainda há férias para alguns, azáfama de regresso às aulas para outros,
mudanças de cidade e de horários. E, sobretudo, ter de lidar com os (im)
previstos custos destas alterações depois dos gastos das previstas férias.
Sinto que setembro é o mês do recolhimento. É o mês em que nos
encolhemos, baixamos a cabeça que andava ao vento de olhos postos no
azul do mar, e “enfiamo-la” de novo nos livros, no ecrã do computador e
nas bocas dos pacientes. Mas é um encolhimento natural, tal qual a folha
verde do verão se encolhe e empalece para receber o outono. Mas este
encolhimento, que é mais um recolhimento, é também o momento para
concentrar as ações, a vontade de fazer acontecer. Porque a força maior
que existe é a da vontade.
Não há objetivos que se consigam ou resultados que se atinjam se não
houver vontade de implementar as ações, de pôr em marcha o crescimen-
to, a aprendizagem e o trabalho necessários para os alcançar. Essa é a úni-
ca diferença entre aqueles que desistem e os que perseveram: a vontade.
Para ser mais consonante com a atualidade deveria dizer: a motivação.
A motivação para voltar à rotina e ao trabalho vem daquele acordo
tácito connosco próprios de que é certo que colhemos no outono o que
semeamos na primavera. Sem estar centrada nos resultados da colheita,
mas tendo a certeza de que só o foco no trabalho e a sua constante avalia-
ção permitem a aprendizagem contínua e sedimentada. Na verdade, um
estudo feito pela Universidade de Nova Iorque a 700 alunos de medicina
veio demonstrar que a aprendizagem é tanto melhor quando mais nos
testamos. Os alunos foram divididos em 3 grupos, em que o primeiro gru-
po teve a possibilidade de estudar a matéria e de repetir o estudo mais 3
vezes antes de ser testado; um segundo grupo, o qual teve a possibilidade
de estudar e repetir o estudo mais 2 vezes e fazer um autoteste antes do
teste final; e um terceiro grupo, o qual só teve oportunidade de aprender
a matéria uma vez e depois repetiu 3 autotestes antes do teste final. O
resultado surpreendeu, mostrando que o terceiro grupo, aquele que só foi
exposto 1 vez à matéria, mas refletiu e pensou sobre ela ao fazer 3 auto-
testes, obteve os resultados mais altos no teste final.
Estes resultados provam que a constante avaliação do que aprendemos
é um processo essencial na solidificação do conhecimento. E a par de ensi-
nar e transmitir aos nossos pares o que aprendemos, são duas das estra-
tégias mais eficazes para aumentar a neuroplasticidade e a capacidade de
estabelecermos novas sinapses e, afinal, de evoluirmos. Que este regresso
venha cheio de motivação!
Célia Coutinho Alves, Médica Dentista Especialista em Periodontologia
pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela
Universidade Santiago de Compostela