JornalDentistry em 2023-2-19

EDITORIAL

A importância de “Afiar a Serra”

A seguir àquele que parece ser o maior mês do ano, que demora muito tempo a passar, porque tem cinco segundas-feiras, está frio e chuva, não tem feriados e os gastos do Natal fazem-no parecer ainda maior, chega o mais mês mais curto.

Célia Coutinho Alves , Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela

Só com 28 dias, um feriado, uma ponte e motivos de festejo, fevereiro já se encaixa no perfil dos meses mais cool. Para quem organiza a sua agenda em função das datas festivas, das férias escolares e dos fins-de-semanas de pontes, fevereiro volta a trazer a possibilidade de proporcionar mais equilíbrio entre fazer e lazer. 

A propósito de fazer e de lazer, vou trazer para a reflexão deste mês mais uma estória. A certa altura, um homem começou a trabalhar numa empresa de madeiras. Na primeira semana o chefe deu-lhe formação como utilizar a serra para cortar uma árvore. No primeiro dia de trabalho ele saiu para trabalhar e cortou 20 árvores. E o chefe ficou impressionado. No segundo dia, também cortou 20. E assim continuou na primeira semana, no primeiro mês... mas ao fim de alguns meses começou a cortar cada vez menos árvores em cada dia. O chefe chamou-o e ele disse: “Não entendo, faço sempre a mesma técnica e não consigo cortar tantas árvores, como já consegui!” E o chefe respondeu-lhe: “O problema é que te esqueceste, neste tempo todo, de afiar a serra! E afiar a serra é tão importante como aprimorar a técnica.” 

”Afiar a serra” deve ser entendido aqui como tempo para descansar, fazer aquilo que nos faz sorrir, que mais gostamos, tempo para encher a alma e o corpo. As empresas, as instituições de ensino, os governantes, de uma forma geral, ainda não perceberam que a sociedade está num ponto de viragem e de não retorno em relação a reclamar para si esta verdade incontornável de que, desviar o foco do trabalho não só não o desfoca, como o carrega para quando é de novo preciso. Por isso, os professores não desistem da luta, por isso os trabalhadores já não aceitam levar trabalho para casa, por isso o primeiro-ministro da Irlanda quer proibir o trabalho de casa para os alunos em idade escolar. O tempo do trabalho é o tempo de trabalho. O tempo do lazer é o tempo do lazer. Ambos indispensáveis ao equilíbrio, ao bem-estar e, por isso, à saúde na sua definição mais global. E ninguém nega a necessidade de maior entrega a um ou a outro  consoante as fases da vida. Mas nem nunca, nem sempre. Se há dias em que trabalhamos mais horas, ou até mais tarde, que sacrificamos fins-de- -semana de lazer, terá de haver outros em que não o poderemos fazer, em favor duma “serra sempre afiada”. Porque o risco é desmotivarmos, e não há nada pior que um trabalhador, um professor, um médico desmotivados. 

Aqui, n’OJornalDentistry estreámos, no mês passado, dois espaços de reflexão e interpelação novos. Uma crónica da responsabilidade da Dra. Mónica Lourenço e uma rubrica da responsabilidade do Dr. Orlando Monteiro da Silva, Presidente da Associação Nacional dos Profissionais Liberais. Duas personalidades atentas e representativas do que é ser médico dentista nos dias de hoje. Daquilo que são os desafios duma classe de profissionais que, por serem liberais, são olhados como meros empre- sários e, que por serem médicos, lhes é exigido que cuidem dos outros sem horas para acabar. Sem parar de investir para cada vez servir melhor, sem parar de se atualizar, para poder cuidar mais. Estou certa de que serão duas vozes ativas na defesa dos direitos que os médicos dentistas já têm como adquiridos, mas que nunca podem ser vistos como garantidos, sobretudo se não lutarmos continuamente por eles. Porque sermos cada vez melhores médicos dentistas, mais completos e mais felizes deve ser uma prioridade. 

Afiar a serra, afinado as prioridades, é o segredo. E se formos livres o suficiente para o conseguirmos fazer, é porque atingimos já o grau de sabedoria de nos importarmos mais com o nosso propósito do que com o nosso ego. E isso é o que nos faz seres humanos mais felizes! 

 

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