O JornalDentistry em 2019-4-28

EDITORIAL

Combater a desinformação na Medicina Dentária

Confesso que tema das “fake news”, nomeadamente a penetração que a desinformação do documentário da Netflix “Root Cause” tem tido na população mais suscetível, me tem causado angústia e preocupação e por isso creio que o desenvolvimento deste tema ainda se impõe nesta edição de abril.

Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia, diretora do “O JornalDentistry”

A medicina dentária baseada na evidência é reconhecida como o “gold standard” na produção de informação de alta qualidade sobre tratamentos através de ensaios clínicos aleatorizados e meta-análises. Esta garante que vários tratamentos clínicos sejam baseados em evidência científica. No entanto, muitos dos procedimentos em medicina dentária são baseados na prática do dia-a-dia, em vez de terem sido submetidos a pesquisas rigorosas baseadas em evidência científica. Clínicos e pacientes tornam-se impacientes esperando que os procedimentos sejam totalmente testados e isso leva a uma forte demanda por respostas positivas. 
A proliferação de declarações ou apresentações baseadas em opiniões visa influenciar as pessoas com uma mensagem favorável e muitas vezes atraente. Essas notícias falsas também podem ter um elemento quase científico, levando a que os tratamentos propostos pareçam mais confiáveis. Os seres humanos são influenciados pelo viés de confirmação, logo, notícias falsas frequentemente confirmam as crenças das pessoas, especialmente se um item já foi visto várias vezes anteriormente, e começa a ser mais convincente do que a verdade baseada na evidência. 
Então como identificar/ lidar com a desinformação em medicina dentária? A Comissão Europeia sugere vários caminhos, incluindo o aumento da transparência do conteúdo online. Sugere ainda métodos simples para verificar se a informação é de uma fonte credível e não é uma notícia falsa. 
A primeira é simples: ‘verifique a fonte’. Desenvolva uma mente cética e não acredite nas notícias da primeira leitura ou audição. Isso pode ser difícil, pois as notícias falsas pretendem apelar às nossas emoções. Um truque simples para espalhar notícias falsas é confirmar suspeitas ou preconceitos. Vale a pena saber que qualquer conteúdo relacionado com a saúde publicado por fontes não confiáveis é compartilhado mais amplamente do que as informações baseadas na evidência científica. 
A segunda forma é continuar a ler e a verificar cuidadosamente o con- teúdo. Não confiar apenas no título. Notícias falsas podem tornar-se tão familiares que a maioria das pessoas as compartilha como se fossem uma afirmação verdadeira. Suspeitas recaem sobre arquivos de áudio ou vídeo sobre medicina dentária que “é bom demais para ser verdade”. Nesse caso, tentar procurar mais informações online. Verificar as informações em relação a outras fontes confiáveis, garantindo que o conteúdo que se está a ler tenha um segundo plano revisto por elas. 
As estatísticas mostram que 40% dos conteúdos de saúde compartilhados nas redes sociais são considerados como notícias falsas e 20% dessas histórias vieram da mesma fonte (Waszak P M, 2018). Por exemplo, uma forma rápida de verificar se alguma fotografia publicada no artigo foi publicada antes noutro sítio é através do link: https://reverse.photos
A terceira forma é uma simples verificação na data da publicação. Às vezes, as notícias antigas serão reintroduzidas como conteúdo novo ou recorrente. Os seres humanos tendem a prestar mais atenção às notícias que reforçam as suas próprias ideias. Além disso, as pessoas reagirão às mesmas notícias de formas diferentes, de acordo com as suas próprias crenças. Na atualidade, os conceitos supostamente fixos e duráveis estão cada vez mais voláteis e os algoritmos digitais são peritos nessa análise. 
Notícias falsas são uma questão global e podem exigir um esforço internacional conjunto para desacreditá-las e promover notícias reais. No entanto, também cabe a cada um de nós, na nossa vida profissional  quotidiana, enfrentar o problema, pois considero que somos a linha da frente no combate à disseminação das “fake news”. 

 

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