JornalDentistry em 2023-12-13
E chegamos ao último mês do ano. O do Natal, da família, dos presentes e das resoluções. O nosso cérebro gosta das novas oportunidades, da possibilidade de limpar a folha e começar de novo. Tem uma propensão
Célia Coutinho Alves, DDS, PhD, médica dentista doutorada em periodontologia
Tendencialmente o nosso corpo tende a poupar energia, a poupar-se. O nosso corpo não é de investir em mais músculo, mais vasos sanguíneos ou mais células neuronais. O nosso corpo foi feito para se poupar. Para quando tiver de correr para fugir do leão, ter energia para tal. E é isso que transmite constantemente ao cérebro: estou cansado, não quero fazer isto agora, não quero decidir. E só um cérebro instruído para investir, saberá ler os sinais do corpo e contrariá-lo. Um cérebro instruído sabe que as deci- sões de hoje terão impacto a 10 anos. Um cérebro instruído sabe investir. Sabemos que quem investe prende dinheiro que não pode gastar, para poder ter mais e durante mais tempo. Um cérebro instruído sabe que para investir a energia em vez de a poupar não pode viver ao lado dos leões. E chegados aqui, com esta reflexão, o que este ano que agora termina me veio ensinar é que treinar um cérebro para investir é muito mais difícil do que o treinar para o que biologicamente ele está preparado para fazer: poupar.
Por isso, treinar um cérebro para a ação de decidir é, do meu ponto de vista, treinar um cérebro para o sucesso. Na vida pessoal e na profissional. Já uma vez aqui deixei a noção de que nós somos o que pensamos e o resultado das nossas escolhas. E, por isso, escolher agir é um bom investimento. No consultório, no tratamento dos nossos pacientes, escolher agir, ter aquela conversa sobre prevenção, ajustar hábitos e técnicas de escovagem, tratar a cárie antes da pulpite, tratar a gengivite antes da bolsa, ajustar a oclusão antes da férula, regenerar antes de extrair, salvar antes de substituir é, para mim, o caminho do sucesso. O investimento que se projeta na saúde oral dos nossos pacientes reflete-se a 10 anos. Poupar o tratamento, fechar os olhos, não se importar, não referenciar, esse cami- nho é o do precipício. O caminho de poupar o tratamento, não o de poupar o dente. Um paciente com um cérebro instruído também procurará escolher agir, escolher as visitas de rotina, a prevenção em vez de empurrar com a barriga ou enfiar a cabeça na areia. E não deixar o corpo enganar o cérebro e o cérebro enganar o corpo.
Dezembro é mais um mês com a possibilidade de investirmos todos os dias ou de nos decidirmos poupar. É tempo de nos inscrevermos no ginásio, de deixar de fumar, de deixar de comer tanta comida processada ou de começar a ler aquele livro. É tempo de transformar o propósito de que vou fazer isto “one day” e dizer que este é o “day one” para a mudança, para começar a fazer algo que andávamos a procrastinar. Treinar o cére- bro para que todos os dias encerrem a possibilidade do “day one” em vez de adiar tudo para “one day”, é uma das chaves do sucesso. Porque se decidirmos fazer 100 coisas e falharmos 50% das vezes ainda assim há 50 coisas em que tivemos sucesso e mais 50 lições que podemos ter apren- dido. Já se decidirmos fazer apenas 10 com medo de falhar nas outras 90, e tivermos 100% de sucesso, só teremos conseguido sucesso em 10. Votos de muitos “day one” nas vossas vidas!
Boas festas e boas leituras!
Célia Coutinho Alves, Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela