O JornalDentistry em 2021-11-20

EDITORIAL

Novembro, o mês dos investimentos

Omês de novembro é, por norma, o mês do nosso congresso anual. O congresso anual dos médicos dentistas. É um tempo de reencontros, oportunidades e aprendizagens.

Excetuando o congresso do ano 2020, exclusivamente digital, por impe- rativos pandémicos, nestes 30 anos de congressos, (24 para mim) cole- ciono momentos muito importantes e marcantes na minha carreira como médica dentista, como colega, docente, formadora e empresária. Muitas vezes ouvi dizer que “tempo é dinheiro”. E sempre pensei que esta expressão significava o valor que o nosso tempo tinha. Que o tempo, o nosso tempo, aquele que decidíamos dedicar a alguém ou a alguma coisa era valioso, porque era nosso e porque nunca mais voltaria a existir, tal e qual. Hoje sei que é mais que isso. Tempo e dinheiro, podem, de facto, ser vistos na mesma perspetiva. Com ambos podemos fazer três coisas. Ou gastar, ou desperdiçar, ou investir. A diferença é que o tempo que desperdiçamos nunca mais volta. 

O congresso da OMD sempre foi, para mim, um tempo muito bem investido. E este ano, sinto quase a nostalgia de um tempo que voltou para trás. Não porque se apresentasse num formato antigo, bem pelo contrário, mas porque voltamos a estar juntos presencialmente. Estes três dias de interação, tenho-os como dos melhores investimentos na nossa profissão. 

Este 30o congresso teve o mérito gigante de se fazer presente em tempos ainda incertos e de decisões difíceis. A qualidade científica dos palestrantes portugueses, foi uma agradável confirmação de que a medicina dentária portuguesa está de excelente saúde e não fica atrás do melhor que se vê internacionalmente. Este tempo de aprendizagem, de partilha, de olhar para o trabalho dos pares é um tempo que nos desafia a querer fazer melhor, a sair da nossa zona de conforto. E é só quando saímos da nossa zona de con- forto que desenvolvemos novas ferramentas, novas capacidades. 

Richard Branson, o fundador da Virgin, diz, desde sempre, que perante uma oportunidade devemos responder sempre “sim”, mesmo que não saibamos como a atingir, como fazer para a conseguir levar a bom porto. Diz ele, que devemos aceitar a oportunidade e só depois encontrar a forma de chegar lá. É quando aceitamos desafios, que ganhamos alento para aprender novas capacidades, que aprendemos novas ferramentas, novas técnicas. 

Lembro-me bem de ter aceitado ser formadora num estudo de investigação fase IV dum fármaco para aliviar as lesões de mucosite oral em pacientes irradiados de cabeça e pescoço. O estudo era multicêntrico, de uma farmacêutica americana, a desenvolver-se em cinco hospitais espanhóis. Precisavam dum médico dentista que pudesse ser treinado para dar formação aos investigadores em cada um dos cinco hospitais. Como para os americanos Portugal e Espanha são a mesma coisa, seria óbvio que eu falaria espanhol. Disse imediatamente que sim. Voei para Boston para três dias de formação. Voltei com o desafio de aprender espanhol em três meses. E que útil se tem mostrado o meu Portenhol! 

O congresso é, para além de tempo, lugar para investir dinheiro. A expodentária é uma reunião privilegiada para dar a conhecer as linhas de evolução de cada área da medicina dentária e promover as melhores condições para o investimento. Quando nos munimos de materiais e tecnologias que nos desafiam a ser melhores e menos invasivos médicos dentistas, voltamos a ter de nos adaptar, reinventar procedimentos, encaixar o futuro no presente da nossa atuação clínica. E assim avançamos. Assim evoluímos numa medicina dentária mais patient friendly. 

Mas, a verdade, é que há tempo para semear e tempo para colher. E a nossa profissão está ainda a semear. É muito recente na linha do tempo. Quer queiramos, quer não, há ainda muito que investir para, mais tarde, poder colher. Há que ter resiliência para resistir às intempéries e sabedoria para saber que dias de chuva são seguidos de dias de sol. E nunca desistir. Haverá muitas reuniões, comissões, intervenções onde gastaremos tempo a semear, a investir numa colheita frutífera. Não desperdicemos tempo! Tempo é dinheiro. E não volta mais! 

 

Célia Coutinho Alves , Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela 

 

 

 

 

 

Recomendado pelos leitores

Meu querido mês de junho
EDITORIAL

Meu querido mês de junho

LER MAIS

Translate:

OJD 118 JUNHO 2024

OJD 118 JUNHO 2024

VER EDIÇÕES ANTERIORES

O nosso website usa cookies para garantir uma melhor experiência de utilização.