O JornalDentistry em 2021-4-17

EDITORIAL

Probabilidades vs. possibilidades

O nome do mês de abril vem do latim “aperire”, que significa “abrir”. Porque com ele vem a primavera e o abrir dos botões das flores. Este ano, a palavra tem um duplo significado com a reabertura presencial de novos anos escolares, serviços e comércio, depois de meses de encer- ramento devido à pandemia.

Célia Coutinho Alves Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela

Neste mesmo mês, um artigo publicado no Journal of Dental Research mostrou que, na Escócia, numa população de 4032 pacientes assintomáticos para a infeção por SARS-CoV-2 que consultou o médico dentista, seguida e testada durante 13 semanas, foram encontrados 22 pacientes positivos. Isto significa cerca de 0.5% de taxa de infeção nesta população analisada.  Ou seja, um em cada 200 pacientes estava positivo e assint mático. 
Já em Portugal, em meados do mês anterior, aquando da testagem dos professores, educadores infantis e auxiliares para a retoma das aulas nos infantários e primeiro ciclo, a taxa de testes positivos encontrada também rondou os 0.5%. Se extrapolarmos estes dados para a população em geral, não é difícil de presumir que um em cada 200 pessoas poderá ser um positivo para a infeção por SARS-CoV-2, assintomático. Em locais com permanência de cerca de 200 pessoas juntas, por exemplo: transportes públicos, recintos de espetáculo, recintos desportivos, escolas, espl nadas, a probabilidade é que possa existir uma pessoa infetada. Daí a necessidade do distanciamento e do uso obrigatório de máscara ou, diria eu, do rastreio por testagem obrigatória. 
O recurso a testes de antigénio e serológicos rápidos em massa e a custos acessíveis, parece-me que cada vez mais fará sentido a testagem e rastreio, sempre que os mecanismos de proteção individual não estiverem assegurados. Ou porque entramos num avião, ou porque entramos num recinto desportivo, numa sala de espetáculos, ou porque os nossos filhos vão à escola sem máscara, mas porque temos de continuar a viver, temos de continuar a assumir o risco da possibilidade de sermos contagiados.
 
Não podemos confundir possibilidade com probabilidade. 
Uma coisa é a possibilidade que existe, sempre, de ganhar o euromilhões quando registo uma aposta. Outra coisa, é a verdadeira probabilidade de isso acontecer. Enquanto o vírus existir e circular entre nós, a possibilidade de ficarmos contagiados existe, coisa diferente é a probabilidade com que isso possa acontecer. 
No contexto de trabalho clínico, com os EPi ́s que instituímos e estamos a aplicar nos nossos consultórios, com o número de utentes e profissionais vacinados, com a testagem rápida instituída, já reduzimos muito essa probabilidade. Pelo efeito da redundância nas medidas diminuímos proporcionalmente esse risco. Já no contexto social, sempre que não podemos usar máscara, não podemos manter distanciamento físico, não temos a pessoa sentada ao nosso lado no estádio, ou teatro, ou avião testada e negativa, não conseguimos reduzir essa probabilidade de contágio, sobretudo no contexto de mais de 200 pessoas juntas. 
Evitar 200 pessoas juntas é a “Tip” desta reflexão, pelo menos à luz do conhecimento atual. O “Trick” é, se temos mesmo de ir, usar máscara FFP2 e nunca a retirar para nada se não quando conseguirmos assegurar dois metros de distância física entre as pessoas que não são do nosso agregado familiar. 
Falo de “Tips & Tricks” porque esse é o título duma rúbrica nova que decidimos “abrir” nesta edição de abril. Nela tentaremos de uma forma sucinta e cheia de sumo, deixar algumas sugestões e truques em medicina dentária que poderão ser úteis aos colegas. Tal qual uma receita de cozinha que nos ajuda a seguir os passos de um cozinhado. Tal e qual um “take home message” que pode mudar a nossa prática clínica de alguma maneira. Porque o conhecimento está sempre a avançar, as Tips & Tricks vêm para ficar e facilitar a tradução desse conhecimento na nossa prática diária! 
 

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