JornalDentistry em 2024-7-17

EDITORIAL

Pulseira Amarela

Estive, no início deste mês, na tomada de posse dos órgãos sociais da OMD para o quadriénio 2024-2028, na fundação Champalimaud, que contou com a presença da senhora ministra da saúde, Prof. Ana Paula Martins.

Sabemos bem que estes momentos são aproveitados para expor de viva-voz os dossiers ainda por fechar, ainda por tratar ou, pior, eternamente abertos no arrastadotempo da política.

 

Mas posso dizer que gostei de ouvir a ministra. Fiquei a saber que a medicina dentária é claramente uma classe de médicos empreendedores que, com tamanha perseverança, e muitas vezes tendo um mar de burocracia e regras de implementa- ção perfeitamente esquizofrénicas para desbravar, têm vindo a assegurar uma rede de cuidados de saúde oral aos portugueses, direito constituído do qual o Estado se tem demitido ano após ano, governo após governo.

Ficamos a saber que a partir de agora desburocratizar será a palavra de ordem também na medicina dentária e na sua legalização, pelo que, por mera falta de recursos capazes de assegurar tempos úteis, seremos todos bons e cumpridores, até prova em contrário. Embora aliciante, não me parece que fazer passar os assuntos na secretaria, por esgotamento de prazos de pronuncia, seja democrático ou mesmo justo para os que sempre cumprem, sempre exigem de si e dos seus no cumprimento da legalidade e da ética nos cuidados de saúde em medicina dentária. Mas aguardo para ver.

O que ficamos a saber também é que, se para a Ordem dos Médicos Dentistas os cuidados em medicina dentária a fazer constar num plano de saúde público geral é um problema de emergência, para o governo ele é apenas urgente. Em saúde, a emergência médica é aquela que trata do paciente em risco de vida iminente e a urgência médica é aquela que trata do paciente que pode esperar, vivo, que lhe sejam prestados os cuidados de que necessita. As urgências hospitalares têm sempre uma ou mais salas de emergência médica, acionadas por sirene quando entra um paciente em risco de vida. Na sala da emergência médica do governo só estão os médicos, os planos de contingência hospitalar para as férias de verão e o problema das greves dos médicos que põem em risco a vida e saúde dos portugueses. Já a medicina dentária e a necessidade de a integrar na responsabilidade pública que o governo abarca, essa está na sala de urgência e não da emergência, junto com outras igualmente urgentes, como as questões laborais dos professores, dos polícias, dos enfermeiros, etc.

Mas senti que o reconhecimento cru de que o Estado não pode mais demitir-se da sua responsabilidade nos cuidados de saúde oral foi genuíno, e reconheci nas suas palavras e na sua linguagem corporal a importância que pretende dar à OMD e às reivindicações da classe na sua agenda política. Diria que a saúde oral está de pulseira amarela a aguardar na sala de urgência do ministério da saúde. E, se assim for, já não é mau.

Vou, assim, para férias com esperança numa agenda urgente de pul- seira amarela, à espera de políticas de saúde que incluam a saúde oral definitivamente no plano executivo do governo. Em benefício da saúde e, sobretudo, da prevenção da doença dos portugueses. Porque prevenir a doença periodontal e as suas múltiplas complicações sistémicas, os abcessos dentários agudos, o cancro oral, é poder ganhar anos de vida. Em qualidade. Porque sem poder comer e sorrir qualquer um de nós estará doente. E triste. Que as férias que agora chegam, sejam um motivo para sorrir e saborear o que a vida tem de melhor! Boas férias!

 

Célia Coutinho Alves, Médica Dentista Especialista em Periodontologia pela OMD, Doutorada em Periodontologia pela Universidade Santiago de Compostela

 

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OJD 119 JULHO 2024

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