A Navegação Dinâmica é uma tecnologia de ponta que estabelece a ligação entre o planeamento e o ato cirúrgico, guiando, em tempo real, e com precisão, a colocação de implantes.
O Dr. Ricardo Henriques, o maior utilizador da técnica em Portugal e formador certificado, enumera as vantagens deste sistema.
1 - Qual o estado atual das novas tecnologias na parte cirúrgica da implantologia oral?
— Dr. Ricardo Henriques – Com o aumento da compreensão e conhecimento dos médicos dentistas, investigadores e clínicos, sobre os fatores de sucesso da reabilitação oral com implantes, é cada vez mais importante a precisão na colocação
destes no local e posição planeados virtualmente em software especializado baseado nas imagens imagiológicas tridimensionais de TAC ou CBCT.
O planeamento virtual demorou anos a chegar à generalidade dos médicos dentistas devido ao custo elevado que os softwares tinham. Atualmente há softwares de análise
de CBCT e planeamento de implantes com menor custo, ou mesmo gratuitos. O passo seguinte foi a cirurgia guiada com guias cirúrgicos estáticos, primeiro produzidos por terceiros e depois produzidos nas clínicas por impressão 3D ou fresagem.
Apesar de alguns clínicos terem o seu protocolo apurado em relação à utilização de guias estáticos, existem muitos casos em que estas não têm precisão ou são um fator de interferência nas condições da cirurgia.
Recentemente chegou à implantologia oral uma tecnologia avançada, que teve os seus primeiros passos noutras especialidades cirúrgicas médicas – a Navegação Dinâmica. Este sistema permite ao médico dentista planear e ter a cirurgia guiada por computador, com visualização virtual em tempo real da progressão da broca ou implante na imagem do CBCT.
2- Quais as principais vantagens para o médico dentista ao utilizar este sistema?
— Dr. Ricardo Henriques – A cirurgia guiada com Navegação Dinâmica, como mostram
os estudos clínicos já existentes, e que comprovo com a minha experiência clínica, elevam a precisão na colocação dos implantes na posição tridimensional planeada virtualmente no CBCT ou TAC. A cirurgia guiada na colocação de implantes começou com os guias estáticos, que apresentam várias limitações, que são ultrapassadas com a Navegação Dinâmica.
3- Em que se diferencia esta técnica?
— Dr. Ricardo Henriques – A Navegação Dinâmica diferencia-se dos guias estáticos
em vários aspetos, sendo, na minha perspetiva, a possibilidade de alterar o planeamento em qualquer momento, inclusivamente durante a intervenção cirúrgica; o facto de ser aplicável a qualquer tipo e marca de implantes; e o facto de todo o protocolo estar nas mãos do médico dentista, que assim fica independente do trabalho de terceiros e controla todos os passos do processo, os mais importantes.
4 - As clínicas precisam de realizar um investimento
financeiro significativo para adquirir este sistema. Falenos
um pouco sobre o custo efetividade desta técnica...
— Dr. Ricardo Henriques – O custo-benefício está patente essencialmente no facto
de se utilizar cirurgia guiada na colocação de implantes, com todas as suas vantagens, sem ser necessário fabricar ou mandar fabricar guias estáticos. Considero também um
importante fator custo-benefício positivo o facto de, em grande parte dos casos, se poder fazer o CBCT, o planeamento e a cirurgia na mesma visita.
5 - Quais os principais benefícios para os pacientes?
— Dr. Ricardo Henriques – Ataxa de complicações peri e pós operatórias é inferior em
comparação com a cirurgia não guiada?
São vários os benefícios para os pacientes. Posso salientar um que valorizo especialmente: A Navegação Dinâmica permite praticar uma implantologia de precisão com retalhos mínimos, pois uma vez que o sistema guia o cirurgião, este
não necessita de abrir retalhos extensos para ter visão direta da zona cirúrgica. Ao conduzir a uma implantologia de maior precisão e menos invasiva, as complicações são naturalmente menores, comparativamente com a cirurgia não guiada.
Obviamente que, contudo, são os critérios clínicos, biológicosme funcionais que têm a maior importância no sucesso das reabilitações.
6 - Porque é importante que os profissionais realizem uma
formação antes de começarem a utilizar na prática diária?
— Dr. Ricardo Henriques –A formação é essencial em todas a técnicas e equipamentos
para que a sua utilização seja correta e potencializada.
Pessoalmente, tenho mais confiança nas marcas que “obrigam” a uma formação quando vendem o seu equipamento, pois mostram o seu interesse pelo melhor uso por parte do utilizador, o que beneficia o médico dentista e os pacientes.
No caso da navegação dinâmica, sendo uma técnica inovadoram que usa equipamentos com tecnologia de ponta, a formaçãoé essencial para que a sua utilização seja correta e eficaz.
7 - A cirurgia guiada “em direto” chegou e veio para ficar?
— Dr. Ricardo Henriques – Chegou, veio para ficar, e está a evoluir a grande velocidade. Estou convencido que no futuro a Navegação Dinâmica será a única forma de praticar implantologia, pois reduz o erro humano, apesar de ter grande intervenção e controlo humano. É uma tecnologia usada noutras áreas cirúrgicas,
como neurocirurgia e cirurgia ortopédica, e tem benefícios comprovados para o sucesso das cirurgias para as quais temmaplicação.
8- Quanto tempo se prevê que demore a ser uma prática
transversal à maioria das clínicas?
— Dr. Ricardo Henriques – Neste momento a tecnologia é dispendiosa e por isso apenas é acessível a alguns profissionais, mas penso que dentro de alguns anos será uma realidade em muitas clínicas. Há também uma mudança de paradigma que demora a entrar na classe, como aconteceu com a transição do amálgama para
o compósito, da endodontia com radiografia apical e lima para o localizador apical, com a introdução das lupas como instrumento de trabalho usual, com a introdução dos softwares de planeamento virtual de implantes e outras inovações que foram surgindo. Portugal neste campo está à frente.
9 - Que inovações tem havido dentro da Navegação Dinâmica?
— Dr. Ricardo Henriques –Para além do alargamento do seu uso clínico em diferentes situações, tem havido inovação tecnológica que permite usar o sistema com diferentes aparelhos cirúrgicos. Tive o privilégio de ser um dos dez primeiros dentistas do mundo a usar o sistema Trace and Place, que permite usar na NavegaçãomDinâmica um CBCT ou TAC normais sem guia radiológica.
Em termos de workflow clínico é uma grande mais valia que beneficia tanto o médico dentista como o paciente. E tive, agora em março, o privilégio de ser o primeiro a fazer Navegação Dinâmica em piezzocirurgia utilizando um calibrador de pontas, que permite usar qualquer aparelho piezoelétrico, de qualquer marca. Irei apresentar a utilização clínica do sistema em julho em Roma. É uma honra e um orgulho ter
Portugal na frente na utilização de Tecnologia na Saúde.
Artigo publicado no "OJornalDentistry" de abril de 2019 em edição impressa e digital