O JornalDentistry em 2018-7-17

ENTREVISTA

“Tentaremos elucidar e guiar os nossos associados nas incursões pelo mundo digital”

A Sociedade Portuguesa de Medicina Dentária Digital (com o acrónimo SPMD2 ou simplesmente D2) nasceu no final de maio e assume-se como uma sociedade científica inclusiva que pretende reunir médicos dentistas, técnicos de prótese dentária e médicos de diferentes especialidades em torno do desenvolvimento de uma medicina dentária praticada com o auxílio de processos e meios digitais.

Dr. Rui Falacho, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Dentária Digital

O Dr. Rui Falacho, presidente da D2, explica-nos o principais objetivos da Sociedade 

O JornalDentistry - Como nasceu a ideia de criar a SPMD2? 

Dr. Rui Falacho - “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce...”. Assim começou o meu discurso na primeira assembleia geral, que decorreu em Coimbra, no dia 27 de maio, e creio que não haveria uma frase mais adequada à situação. A SPMD2, também denominada de D2, nasceu da iminente necessidade que a medicina dentária e prótese dentária portuguesas apresentavam no sentido de ter um espaço e um organismo dedicados ao debate, angariação e partilha de conhecimento numa vertente com um ritmo exponencial de crescimento, como é o caso da área digital.  Durante alguns anos a ideia foi “cozinhada” e fomentada, após ouvir a opinião de vários colegas e inteirar-me cada vez mais da realidade de outros países e contextos. Começou então a ficar claro na minha mente que este seria o momento certo. Como dizia Van Gogh: “Se sentires uma voz dentro de ti a dizer para não pintares, então pinta e essa voz será silen- ciada”. E decidimos pintar. 

O JornalDentistry - Porquê agora? 

Dr. Rui Falacho - As mudanças não ocorrem se esperarmos pelos outros ou se as deixarmos para mais tarde. Nós somos aqueles de quem estávamos à espera. Nós somos a mudança que procuramos. O mais difícil é sem dúvida a decisão de agir, de dar o primeiro passo... O resto é apenas tenacidade e estou certo de que a teremos, todos juntos, porque a força da mudança não resulta só da ideia inicial e do esforço individual, que está obviamente na génese de tudo. Resulta também do trabalho de pessoas empenhadas que vão juntando as diferentes carruagens para fazer um comboio maior e que lutam por ele diariamente. Há apenas uma maneira de evitar críticas: não faça nada, não diga nada e não seja nada. Imbuídos por este espírito, sem receio de noites de facas longas, decidimos avançar. 

O JornalDentistry - Quantos associados têm? 

Dr. Rui Falacho - Numa fase inicial, o repto foi lançado e acolhido de forma entusiasta pelos mais de cem associados que estiveram presentes na primeira assembleia geral e decidiram sair da sua zona de conforto para dar um pouco de si próprios a este projeto. O entusiasmo de todos foi quase palpável e muito me apraz dizer que tenho desde então recebido centenas de mensagens e e-mails desses mesmos associados e de muitos outros que pretendem juntar-se a nós, com ideias, pedidos e sugestões que certamente enriquecerão o nosso plano de ação. 

Desde a cerimónia oficial que tivemos várias semanas de intenso trabalho de back office na organização estrutural, legal e burocrática da Sociedade. Neste momento estamos já em condições de aceitar novos sócios e posso confidenciar que, para nosso gáudio, já foram submetidas largas dezenas de pedidos. Reitero o convite a todos os leitores para visitarem o nosso website (www.spmd2.pt) e tornarem-se associados. 

O JornalDentistry -O que é prioritário, para a SPMD2? 

Dr. Rui Falacho A lista de prioridades num projeto emergente é sempre vasta e muitas vezes propícia a que se perca o rumo. Nesta fase inicial, queremos concentrar os nossos esforços na educação pontual e contínua dos nossos associados no que concerne à medicina e prótese dentária digitais, através da realização de reuniões e cursos, descentralização de atividades formativas, promoção de condições para criação de guidelines, acreditação de competências, bem como dispo- nibilização de publicações e trabalhos em plataformas físicas e digitais que permitam uma melhor compreensão e otimização de workflows digitais adaptados à realidade de cada um. 

Pretendemos ainda proporcionar aos nossos associados o acesso a consensos e validações sobre a tecnologia disponível, com pequenos e sucintos guias acerca da tecnologia disponibilizada pela indústria, sua utilidade e avaliação. 

Temos ainda como prioridade estabelecer relações de cooperação internacional com as nossas congéneres de outros países para facilitar o intercâmbio de conhecimento e pessoas. Neste âmbito, é de realçar a “Declaração de Coimbra”, tratado assinado com a congénere espanhola, durante a primeira assembleia geral, para cooperação e irmanação; bem como o tratado de cooperação e representação que estabelecemos com a Sociedade internacional dedicada à medicina dentária e prótese dentária digitais, que possibilitará representação mútua e intercâmbio além-fronteiras. 

O JornalDentistry - Consideram que faltam competências em medicina dentária digital, em Portugal? 

Dr. Rui Falacho - Como referi anteriormente, uma das grandes apostas iniciais, talvez a maior, da D2 será a formação dos seus associados. Contudo, creio que o nível da medicina dentária e prótese dentária portuguesas está num patamar equiparado ao que de melhor se faz pelo mundo em algumas das áreas digitais, sendo que noutras está claramente aquém. Importa então clarificar e desmistificar o que é e em que consiste a área digital. 

O JornalDentistry - O que devemos entender por medicina dentária e prótese dentária digitais? 

Dr. Rui Falacho - Na prótese dentária, a área digital tem fronteiras bem balizadas e apesar de ainda existir um disseminado desconhecimento acerca de alguns dos processos digitais, a massa crítica do nosso país começa a dar bastantes cartas. 

Na medicina dentária a realidade é mais amorfa e por vezes desconhecida, com vários conceitos menos claros, entre os quais está a ideia falaciosa de que “digital” é o “CAD/CAM” (cha- vão hodiernamente utilizado para tudo), as impressões 3D e, de forma geral, algo abstrato em que máquinas fazem o trabalho por nós com um simples clique. Estes conceitos não poderiam estar mais longe da realidade. 

Em medicina dentária, alguns exemplos bem difundidos da área digital são: o registo fotográfico ou vídeo para planeamento e documentação; a utilização de exames comple- mentares de diagnóstico, como o recurso a RVG (radiografia digital) ou CBCT; aplicação de tecnologia ultrassónica em áreas cirúrgicas, reabilitadoras ou em endodontia; o recurso a localizadores apicais ou instrumentação mecanizada; execução de técnicas cirúrgicas, protéticas ou endodônticas guiadas; aplicação de diversos meios tecnológicos na orto- dontia ou na DTM; entre muitos outros quase infindáveis exemplos. 

As técnicas digitais associadas à reabilitação oral com recurso aos equipamentos de CAD/CAM, impressoras 3D, entre outros, são também uma realidade, mas necessitam de maior clarificação no sentido de serem coadjuvantes à atividade clínica, e não são substitutos do conhecimento e técnica sempre necessários a cada caso. É fundamental saber que, dando um exemplo muito específico, encerar um caso digitalmente não é só clicar em meia dúzia de botões, pelo contrário, requere grande perícia e conhecimentos equiparáveis aos necessários para um enceramento manual. “Digital” não é simplificar, mas sim complementar. 

Para além dos mitos e da necessidade de formação, um dos maiores obstáculos a uma vulgarização ainda maior de algumas tecnologias digitais é o custo que lhes está subjacente. Tanto o médico dentista como o técnico de prótese dentária deparam-se com custos muito elevados e dúvidas sobre a utilidade, eficácia ou retorno do investimento. Por vezes não conseguem avaliar, de forma natural e justificada, qual a tecnologia disponível que melhor se adequará às suas necessidades, entre outras questões importantes que podem tornar-se impeditivas. É também neste âmbito que a D2 se situa. Tentaremos elucidar e guiar os nossos associados nestas e noutras incursões no mundo digital. 

O JornalDentistry - Porque é o digital vital para o nível de excelência da medicina dentária portuguesa? 

Dr. Rui Falacho - Tendo por base o conceito alargado de medicina den- tária digital que já abordei anteriormente, creio que será consensual e bastante evidente para todos, sem qual- quer choque ou admiração, afirmar que hoje em dia não é já possível desenvolver atividade clínica sem recurso aos meios digitais. Vários são os equipamentos e coad- juvantes digitais que utilizamos no dia-a-dia sem sequer nos apercebermos. Se retrocedermos alguns anos, talvez fosse irrealista sequer imaginar que poderíamos utilizar um “aparelhozinho” que nos informasse de forma precisa onde está o limite CDC e permitisse ter uma prática endodôntica como a de hoje. Porém, atualmente utilizamos localizadores apicais de forma rotineira. O mesmo acontece com a radiologia digital, entre outros exemplos. 

A tecnologia tornou-se parte integrante da nossa ati- vidade clínica e na mesma medida que utilizamos facilmente os meios referidos, num futuro próximo será também para nós habitual e quase indispensável recorrer a tecnologia de impressão, desenho e fabrico, não só para promover a excelência e precisão do trabalho, mas também para o tornar mais cómodo para clínicos e pacientes. 

O JornalDentistry - O que podemos esperar em breve da SPMD2? 

Dr. Rui Falacho - A SPMD2 irá focar a sua atividade inicial nos objetivos que já mencionei acima, sendo que o mais importante é não termos um plano fechado e imutável. Queremos uma filosofia fluida onde possamos adaptar-nos às especificidades de cada área e à realidade de cada associado. Os associados são o centro da nossa ação. Queremos sempre aceder às suas necessidades e expetativas. 

O JornalDentistry - Que áreas da medicina dentária estão representadas na SPMD2? 

Dr. Rui Falacho - De forma categórica: todas. Um dos principais bastiões, que me deixa particularmente orgulhoso e feliz, é termos conseguido juntar na SPMD2 colegas de medicina dentária e prótese dentária em torno da mesma causa e com a clara noção de que todos trabalhamos em uníssono. De forma mais específica, dentro da medicina dentária reunimos alguns dos colegas mais ativos e preponderantes nas diferentes áreas – cirurgia, endodontia, medicina oral, odontopediatria, ortodontia, periodontologia e reabilitação oral (prostodontia, oclusão e dentisteria). Muitos são os colegas destas e de outras áreas da medicina dentária e prótese dentária que admiramos e estaremos muito honrados se nos acompanharem neste projeto. 

Assim, para terminar, reforço o apelo a todos os colegas interessados na tecnologia associada à prática clínica ou laboratorial para que se juntem a nós nesta caminhada. 

 

CORPOS SOCIAIS 

Mesa da Assembleia Geral 

Presidente: Duarte Marques
Primeiro Secretário: Paulo Júlio Almeida Segundo Secretário: Hélder Oliveira Suplente: Raphaël Gameiro 

Conselho Fiscal 

Presidente: Salomão Rocha Vice-Presidente: João Brochado Vogal: Pedro Miguel Brito Suplente: Tomás Amorim 

Direção 

Presidente: Rui Falacho Vice-Presidente: Carlos Falcão Secretário: André Chen Tesoureiro: Luís Fonseca Vogal: José Francisco basto Vogal: João Fernandes 

Vogal: Joana Marques Suplente: João Pato Suplente: João Mouzinho 

 

Artigo publicado na edição de julho de 2018 do  "O JornalDentistry" versão impressa e digital

 

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