O JornalDentistry em 2022-4-28

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Mais de metade dos jovens médicos dentistas estão descontentes com a profissão

Inquérito revela que quase metade dos médicos dentistas com menos de 35 anos recebe menos de mil euros líquidos por mês

Um inquérito aos médicos dentistas com menos de 35 anos traça um cenário de grandes dificuldades para singrar no mercado de trabalho. 

Mais de metade dos jovens médicos dentistas mostram-se descontentes com a profissão, sendo que 32% se pudesse voltar atrás escolheria outra carreira, e perto de 25% pretende completar os estudos com outra área de forma a poder exercer outra profissão. 

O inquérito recebeu mais de 2.400 respostas, num universo de 4.745 médicos dentistas inscritos na Ordem com menos de 35 anos. 

Os jovens médicos dentistas exercem a profissão, na sua maioria, em uma (38%) ou duas clínicas (26%). Em média, 43% atende entre 6 e 10 pacientes por dia e, aproximadamente, 40% atende diariamente mais de 11 doentes. 

Apenas 17% dos médicos dentistas com menos de 35 anos afirma ter contrato de trabalho. Perto de 70% dos inquiridos são trabalhadores por conta própria sem funcionários a cargo, ou seja, trabalham a recibos verdes. 

Uma situação que se agrava para quem trabalha para o Estado, quase 90% dos jovens médicos dentistas colocados em centros de saúde ou hospitais públicos são contratados a recibos verdes, sendo que quase metade (48,9%) está contratada através de empresas. Os poucos que têm contrato estão integrados como técnicos superiores do regime geral, um cargo de natureza administrativa. Na prática, nos serviços públicos, a totalidade dos médicos dentistas, segundo o inquérito, estão contratados de forma irregular. 

92,5% exerce em clínicas e consultórios privados, 4,1% em hospitais privados e 2,4% em centros de saúde. 

No privado, a grande maioria (78%) recebe em regime de percentagem, e destes, quase 55% ganha entre 31 e 40% do valor do ato médico. De salientar que 92% dos inquiridos revelam que recebem uma percentagem inferior a 50%. Quase metade (45%) dos que responderam ao inquérito demoraram um ano, ou mais, até a conseguirem auferir de um valor semelhante ao salário mínimo nacional. 

Os dados mostram que mais de 50% dos jovens médicos dentistas têm um rendimento mensal bruto de menos de 1.500 euros (53%) e mais de 70% tem um rendimento mensal líquido, ou seja, depois dos descontos, abaixo 

desse mesmo valor (74%). Mais de metade (51%) dos jovens médicos dentistas recebe menos de 1.000 euros líquidos por mês. 

Ainda que um contrato de trabalho não evite que os médicos dentistas aufiram menos de 750 euros mensais líquidos, existem diferenças estatisticamente significativas a partir dos 1.000 euros líquidos, na medida em que médicos dentistas com contrato de trabalho têm uma maior probabilidade de ganhar entre 1.000 e 1.500 euros mensais. 

A grande maioria (72%) dos jovens médicos dentistas com atividade profissional renumerada trabalham entre 4 e 6 dias por semana, sendo que 20% trabalha apenas até 4 dias e 5% acaba por trabalhar mais de 6 dias por semana. Mais de 69% trabalha mais de 8 horas, sendo que 22% ultrapassa as 10 horas diárias. 

Os resultados deste inquérito vão ao encontro das preocupações que o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Miguel Pavão, tem manifestado publicamente sobre o excesso de médicos dentistas e as condições de subemprego dos profissionais mais jovens. 

Tiago do Nascimento Borges, presidente do Conselho de Jovens Médicos Dentistas, explica que “as conclusões deste inquérito mostram que a medicina dentária é uma profissão marcada pelo subemprego e precariedade nos primeiros anos de exercício profissional, com condições pouco dignas a nível de condições de trabalho e remuneratórias. Muitos jovens médicos dentistas começam a receber €200 ou €300 em situações que, por vezes, se prolongam no tempo. Esta realidade é preocupante e tem tendência a piorar, uma vez que mesmo após dez anos de carreira e com uma carteira de pacientes mais fidelizada, quase 80% dos médicos dentistas ganham menos de 1500€ euros por mês e a recibos verdes, ou seja, ganham a 11 ordenados por ano sem direito a subsídios de férias, de Natal ou de alimentação, e com mais dificuldade em obter baixa em caso de problemas de saúde.” 

A medicina dentária é uma profissão que exige formação constante e 40% dos inquiridos investiram mais de metade dos rendimentos no último ano em formação. Destes, 25% investiu em formação considerada base – o que evidencia deficiências no ensino universitário (mestrado integrado) e pressão do mercado laboral. 

O presidente do Conselho de Jovens Médicos Dentistas salienta ainda que “a alta exigência técnica e a evolução da profissão obrigam a altos investimentos em formação contínua, até para que os colegas se consigam destacar num mercado altamente competitivo e oferecer o melhor aos seus doentes. Um curso de dois ou três dias tem o custo de um salário mensal inteiro. A realidade nacional contrasta com a realidade no estrangeiro e justifica um fenómeno crescente de "brain drain" na área da medicina dentária”. 

Tiago do Nascimento Borges alerta ainda para “as falhas que ocorrem na formação pré-graduada e que devem merecer a maior das atenções por parte da academia. Podemos afirmar que a grande causa comum de todos estes problemas é a falta de planeamento de recursos humanos que levou a um excedente de médicos dentistas em Portugal. Hoje, trabalhamos num mercado altamente desregulado, deturpando os valores deontológicos do exercício profissional e a qualidade do ensino e, tudo isto, no fim terá sempre impacto na qualidade de prestação do serviço de saúde oral à população." Estima-se que 16% dos médicos dentistas mais jovens esteja a trabalhar fora de Portugal, sendo que muitos não chegam a inscrever-se na Ordem e procuram diretamente trabalho no estrangeiro. 

Emigraram maioritariamente em busca de melhores rendimentos (86%), melhor qualidade de vida (72%) e uma maior valorização da profissão (66%) – três fatores associados negativamente à profissão em Portugal. 

Aproximadamente 40% dos jovens médicos dentistas a exercer no estrangeiro não antevê num regresso a Portugal. As diferenças salariais (quase metade aufere mais de 5.000 euros líquidos mensais) e de estabilidade laboral justificam esta opção. 

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