O JornalDentistry em 2020-6-27
Até ao início desta crise estávamos a viver uma outra pandemia: a propagação de asneiras e disparates como doutrinas a serem absorvidas por seguidores
Absurdos eram publicados e espalhavam-se como inquestionáveis, a maioria sem comprovação clínica ou científica,
apoiados em intuição com selo de modernidade ou inovação.
A inovação estava em todas. Era frustrante ao ponto de nos acharmos retardados, pois não conseguíamos inovar o
tempo inteiro. Ser ultramoderno, com novas técnicas e estratégias, de forma a levar o selo de empreendedor e arrojado.
Ser simples, prático e coerente era sinal de conservadorismo, talvez obsoletismo. Todos querem ser novos e audazes,
não importa o custo disso. Importa apenas o status. O custo logo se vê como se paga, nem que seja através de financiamento
com muitas e muitas parcelas. O novo é tão arraigado que uma jovem de 25 ou 30 já faz botox preventivo…
O amadurecimento e a acumulação da idade podem gerar coisas não tão boas, mas traz muitas coisas fabulosas. Uma
delas é o equilíbrio. É um equívoco querermos manter o corpo sempre jovem e o maior engano é querermos, pensarmos
e agirmos como tal.
Acho que a crise veio pontuar alguns sentimentos rejeitados que fazem parte do nosso quotidiano. A culpa é um deles,
pois costumamos terceirizar a culpa. A sensação é de nunca nos responsabilizarmos pelas falhas. Existe sempre
alguém que foi o agente do ocorrido. Certamente que, nestes tempos em que tudo o que é nefasto pode acontecer, a
culpa é e será sempre do vírus. Mesmo que danos e prejuízos já se sinalizassem antes disso e não os admitíssemos
pelo ego inflamado.
Medo é outro sentimento sempre renegado, pois fomos ensinados de que não podemos acobardar-nos diante de
nada. Pânico é um derivativo acentuado do medo. Ambos podem estar associados promovendo angústia em escala
colossal. Como não ter medo neste momento?
Uma ressalva muito importante: o medo existir é normal, mas ele tomar conta das nossas ações pode ser uma catástrofe
que nos imobilizará permanentemente. Devemos continuar a encontrar soluções ou caminhos alternativos que
nos levem em direção à serenidade.
Ambos os sentimentos precisam de ser vividos, pois fazem parte da existência. Um não pode bloquear incondicionalmente
o outro. A coragem precisa de crédito. Crédito pessoal inafiançável. Confiança para desafiar as dificuldades
será o nosso bom combate.
Vamos encontrar forças para isso, com dedicação e entendermos que não são os mantras do positivismo que nos
guiam, mas sim a simplicidade do trabalho bem feito. Sucesso é o último sentimento que vou abordar. A depressão
é o contraponto de uma luta sem fim em busca do sucesso.
Este badalado incessantemente como um destino para todos. Ao mesmo tempo, manuais e compêndios com mensagens
soberanas inundam as redes sociais, onde tudo parece possível. Basta acreditar. Falso. Totalmente falso.
Enfim, no final de tudo isto vão sobrar aprendizagens. Sobrarão lições, doloridas é verdade, as quais podem fortalecer-
nos, enquanto irão destacar as nossas fragilidades. O simples vai continuar a ter valor. O supérfluo será desnecessário
e descartável. O narcisismo talvez dê seu lugar à discrição e à modéstia. Que o apelo do exagero seja substituído
pela realidade do que é verdadeiramente necessário.
Dr. Celso Orth — Graduado em Medicina Dentária - UFRGS; MBA em Gestão Empresarial - Fundação Getulio Vargas; Educador Físico - IPARS; Membro Fundador da Academia Brasileira de Odontologia Estética; Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Odontologia Estética; Palestrante de Gestão na Prestação de Serviços na área da saúde; Reabilitador que trabalha em tempo integral na Clínica Orth - Rio Grande do Sul - Brasil. Para enviar questões e solicitar esclarecimentos: celsoantonioorth@gmail.com